Saúde

Por Redação Galileu

Pesquisadores da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, criaram um método que permite dividir o diagnóstico de depressão em 6 subtipos. Para isso, o grupo usou imagens cerebrais feitas via ressonância magnética, combinadas com tecnologias de aprendizado de máquina. Os resultados vieram a público nesta segunda-feira (17) em um artigo da revista Nature Medicine.

Segundo o estudo, cerca de 30% das pessoas diagnosticadas com depressão apresentam dificuldade de melhora dos sintomas, mesmo quando submetidos a vários tipos de medicamentos ou terapias. Da mesma forma, para até dois terços das pessoas afetadas pela doença, os tratamentos não conseguem reverter totalmente os sintomas para níveis saudáveis.

Hoje, a prescrição de tratamento para a depressão funciona a partir do método de tentativa e erro. Com isso, pode levar meses ou anos para se encontrar um medicamento que funcione – se isso acontecer algum dia. Insistir em um diagnóstico e abordagem equivocada pode, inclusive, até mesmo piorar o quadro dos pacientes.

“É muito frustrante ter quadro de depressão e não ter uma alternativa melhor que a abordagem convencional”, indica a psiquiatra Leanne Williams, uma das autoras do estudo, em comunicado à imprensa. “Por isso, nosso objetivo com este projeto é descobrir como podemos acertar o tratamento de primeira”.

Os 6 tipos de depressão

Para compreender os fatores biológicos ligados à depressão, a equipe de Stanford avaliou 801 pacientes diagnosticados com a doença. Para isso, usaram a tecnologia de imagem conhecida como ressonância magnética funcional (fMRI) para medir a atividade cerebral.

A pesquisa examinou os cérebros dos voluntários tanto em estado de repouso quanto durante a execução de tarefas destinadas a testar o funcionamento cognitivo e emocional. Os cientistas se concentraram em observar regiões e conexões do cérebro já conhecidas por desempenharem um papel na depressão.

A equipe, então, criou um programa para agrupar as imagens cerebrais dos pacientes a partir de características similares identificadas entre elas. Foi assim que se chegou a seis padrões distintos de atividade nas regiões cerebrais.

  • Biotipo A (DC+ SC+ AC+): Possui circuitos cerebrais com maior atividade no que corresponde à autorreflexão, detectando informações importantes e controlando a atenção. As pessoas neste grupo tendem a ter reações emocionais e atenção mais lentas, mas respondem bem à psicoterapia.
  • Biotipo B (AC−): Apresenta circuitos cerebrais hipoativos que controlam a atenção. Pacientes tendem a ter dificuldade de concentração e controle de impulsos, e não respondem tão bem à psicoterapia.
  • Biotipo C (NSA+ PA+): Caracterizados por circuitos cerebrais hiperativos que processam tristeza e recompensa. Eles tendem a ter dificuldade em sentir prazer e emoções positivas.
  • Biotipo D (CA+): Aqui, os circuitos cerebrais com maior atividade são os envolvidos na regulação do comportamento e dos pensamentos. Pessoas neste grupo tendem a ter emoções negativas excessivas e sensibilidade a ameaças, além problemas de memória de trabalho. Mas respondem bem a certos medicamentos antidepressivos.
  • Biotipo E (NTC C- C A−): Este biotipo reduz a conectividade nos circuitos emocionais quando pessoas avistam o rosto de alguém que é considerado uma ameaça, e reduz a atividade nos circuitos ligados ao controle de comportamento. Eles tendem a demorar menos para reagir a estímulos como um rosto triste, por exemplo.
  • Biotipo F (DXSXAXNXPXCX): Não apresenta nenhuma hiperatividade ou subatividade importante nos circuitos cerebrais estudados, quando comparado pessoas saudáveis. Seus sintomas são provavelmente decorrentes de fatores não captados pela análise deste estudo.

Respostas aos tratamentos

Além da identificação dos seis biotipos da doença, os cientistas também designaram aleatoriamente 250 participantes do estudo para receberem tratamento com um dos três antidepressivos mais comumente usados. Parte deles, foi escalada para ter sessões de terapia de conversação comportamental. Assim, foi possível observar a forma como indivíduos de cada biotipo respondem a tais estímulos.

Verificou-se, por exemplo, que pacientes com o subtipo A, caracterizado por hiperatividade nas regiões cognitivas do cérebro, experimentaram a melhor resposta ao antidepressivo venlafaxina (comumente conhecido como Effexor) em comparação a outros biotipos.

“Até onde sabemos, esta é a primeira vez que conseguimos demonstrar que a depressão pode ser explicada por diferentes perturbações no funcionamento do cérebro”, afirma Williams. “Em essência, é uma demonstração de uma abordagem de medicina personalizada para a saúde mental baseada em medidas objetivas da função cerebral”.

Em outro estudo publicado recentemente, Williams e sua equipe mostraram que o uso de imagens cerebrais de fMRI melhora a capacidade de identificar indivíduos com probabilidade de responder ao tratamento antidepressivo. Ao identificar esses quadros, os pesquisadores previram com precisão a probabilidade de remissão em 63% dos pacientes, em comparação aos 36% de precisão sem usar imagens cerebrais.

Mesmo com os resultados já encontrados, Williams reitera que ainda há muito a ser analisado. A equipe agora busca expandir o número de participantes e testar mais tipos de tratamentos em todos os seis biotipos, incluindo medicamentos que não são tradicionalmente usados para a depressão. Também é esperado que a equipa consiga estabelecer padrões fáceis de seguir o método, de forma a incentivar que outros profissionais possam implementá-lo em suas clínicas.

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