Órgãos de animais geneticamente modificados são uma solução para atender a demanda de pessoas que necessitam de transplante. Por isso, uma equipe internacional de pesquisadores transplantou corações de porcos editados em dois pacientes humanos que tiveram morte cerebral. O resultado do estudo foi publicado na revista Nature no último dia 17 de maio.
Até o momento, os transplantes de órgãos de animais foram parcialmente bem-sucedidos, isto é, os pacientes viveram somente alguns meses após a cirurgia. No estudo, os pesquisadores buscaram entender os fatores que determinam se os órgãos xenotransplantados (transplante entre diferentes espécies) podem ser aceitos por humanos.
Em um período de três dias, a equipe coletou amostras de sangue dos pacientes (um homem e uma mulher) a cada seis horas e amostras de tecido durante os procedimentos. As cirurgias ocorreram com os pacientes mantidos vivos por ventilação mecânica em 2022 no Centro de Saúde Langone para Pesquisa e Desenvolvimento de Bioespécimes da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos.
Alguns dos testes feitos nas amostras foram sequenciamento de RNA, espectrometria de massa, perfil de citocinas e de lipídios. O intuito era entender como o corpo humano reage ao aparecimento de um órgão estranho.
No paciente homem foram observadas evidências de mudanças na expressão genética e aumento da atividade das células de defesa linfócitos T. Além disso, os cientistas notaram elevação no papel das células imunológicas "assassinas".
O motivo disso pode ter sido o recebimento de um coração menor, mas a equipe espera ter mais informações conforme os dados do transplante são analisados. Além disso, 42 horas após o transplante, os pesquisadores notaram no paciente "alterações substanciais no metabolismo celular e nas vias de dano hepático", correlacionando-se com "profunda disfunção fisiológica" em todo o órgão de porco.
Por outro lado, os cientistas notaram alterações relativamente pequenas nos perfis de RNA, proteína, lipídios e metabolismo na mulher falecida, em comparação com o homem.
Segundo escrevem os pesquisadores no estudo, os resultados "delineiam respostas distintas ao xenotransplante cardíaco nos dois falecidos humanos e revelam novos deslumbres sobre as respostas moleculares e imunológicas precoces após o xenotransplante".