Saúde

Por Philip Crilly* | The Conversation

Milhões de pessoas em todo o mundo ficaram arrasadas com a morte, este ano, de Matthew Perry, de 54 anos, o astro de Friends, famoso por dar vida ao sagaz Chandler Bing. Um astro global, recentemente sóbrio e com uma autobiografia nas listas de best-sellers, parecia que seu passado conturbado havia ficado para trás. Por isso, o mundo ficou especialmente chocado e triste ao saber de sua morte prematura por aparente afogamento.

Na semana passada, autoridades médicas de Los Angeles confirmaram que seu afogamento foi mais complexo do que se suspeitava inicialmente. Os relatórios toxicológicos indicaram que duas drogas estavam no sistema de Perry no momento de sua morte. Eram a buprenorfina, uma droga usada para tratar a dependência de opióides, e a cetamina (também grafada como quetamina ou ketamina, por causa de sua origem no inglês, ketamine), às vezes chamada de Special K ou tranquilizante para cavalos.

Considerando os bem documentados problemas de dependência de Perry em relação a analgésicos opioides, o uso de buprenorfina não foi uma surpresa. Mas por que ele estava tomando cetamina?

A cetamina funciona agindo em receptores no cérebro e, desde sua síntese na década de 1960, tem sido usada na medicina veterinária e também como anestésico cirúrgico em humanos.

Após sinais de que a cetamina poderia afetar o humor do usuário, ela foi investigada quanto ao seu possível papel no tratamento da depressão e da ansiedade. Atualmente, a cetamina pode ser prescrita aos usuários para essas condições, mas geralmente somente após o fracasso de outros medicamentos antidepressivos e ansiolíticos.

O oficial médico em Los Angeles especificou que Perry estava recebendo legalmente infusões de cetamina para tratar depressão e ansiedade. No entanto, eles observaram que, dado o tempo decorrido desde a última dose, era improvável que a cetamina em sua corrente sanguínea fosse proveniente das infusões prescritas. Nenhum outro motivo foi apresentado para explicar por que ele teria cetamina em seu sistema tão perto do momento de sua morte.

Matthew Perry em cena da série "Friends" — Foto: Reprodução
Matthew Perry em cena da série "Friends" — Foto: Reprodução

Além de encontrar drogas em seu corpo, Perry também foi listado como portador de doença cardíaca. A cetamina pode causar um aumento na pressão arterial e na frequência cardíaca, portanto, não é surpreendente ouvir do médico legista que: “Com os altos níveis de cetamina encontrados em suas amostras de sangue post-mortem, os principais efeitos letais seriam tanto a superestimulação cardiovascular quanto a depressão respiratória.”

Outro fator que contribuiu para a morte de Perry foi o afogamento. Então, a cetamina torna o afogamento mais provável?

A cetamina pode fazer com que os usuários tenham problemas de coordenação e se sintam desorientados. A combinação desses efeitos na água pode tornar as reações de uma pessoa mais lentas, colocando-a em risco de sofrer danos, portanto, a cetamina certamente pode aumentar a probabilidade de afogamento.

Além disso, tomar cetamina com outras substâncias, como o álcool, pode aumentar o risco de sonolência. Embora Perry tenha tido um problema muito divulgado com o álcool, seu relatório toxicológico não indicou nenhum álcool em seu sistema no momento de sua morte.

Não é o primeiro

Infelizmente, Perry não é a primeira estrela de Hollywood a morrer afogada sob o efeito de drogas. Em 2012, a estrela mundial Whitney Houston morreu em uma banheira após consumir maconha, cocaína e o benzodiazepínico conhecido como alprazolam (Xanax).

Essas histórias nos lembram dos perigos do abuso de substâncias e da importância de buscar ajuda profissional para problemas de dependência.

Matthew Perry era um grande defensor de mais serviços de apoio à dependência e, desde sua morte, a Matthew Perry Foundation foi criada para ajudar aqueles que estão lutando contra a doença da dependência.

O ator Matthew Perry — Foto: @mattyperry4 / Instagram
O ator Matthew Perry — Foto: @mattyperry4 / Instagram

Perry disse: “Quando eu morrer, não quero que Friends seja a primeira coisa a ser mencionada, quero que ajudar os outros seja a primeira coisa a ser mencionada. E vou viver o resto de minha vida provando isso”.

Nos últimos anos de sua vida, ele fez exatamente isso. Mas, infelizmente, parece que será na morte que ele terá o maior impacto em ajudar os outros a superar seus demônios.

* Philip Crilly é professor sênior de prática farmacêutica e saúde pública digital na Universidade de Kingston, no Reino Unido. Este texto foi originalmente publicado no site The Conversation.

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