Nos Estados Unidos, um imunizante experimental demonstrou resultados promissores em pacientes com mieloma múltiplo de alto risco, um tipo raro de câncer causado pela proliferação anormal de células plasmáticas na medula óssea.
Os resultados imunológicos, divulgados pela Associação Americana para a Pesquisa do Câncer, foram registrados ontem (22) em um estudo publicado na revista Clinical Cancer Research. Um total de 14 pacientes foram imunizados com uma vacina de células detríticas, mas somente 13 foram incluídos na análise.
“O mieloma múltiplo é um câncer crônico e incurável”, conta em comunicado o autor sênior da pesquisa, Frederick L. Locke, do Moffitt Cancer Center. “As vacinas de células dendríticas têm o potencial de aproveitar o próprio sistema imunológico dos pacientes para levá-los à remissão e, potencialmente, evitar que o câncer volte", ele explica.
A vacina foi administrada nos pacientes 30 dias antes e aproximadamente 21 dias após um transplante autólogo de células-tronco (TACT) — um dos tratamentos já existentes contra o mieloma múltiplo. O procedimento é normalmente precedido por terapia de indução com quimioterapia para matar o maior número possível de células cancerígenas.
Para este estudo, os cientistas selecionaram pacientes com doença de alto risco que ainda apresentavam mieloma ativo após a terapia de indução e antes de receberem o transplante. “Nós nos concentramos nesta população de pacientes porque eles mais precisam da vacina”, disse Locke.
O imunizante foi direcionado a uma proteína chamada survivina, pois a alta expressão desta na hora do diagnóstico está associada a resultados desfavoráveis.“Portanto, levantamos a hipótese de que, ao direcionar essa proteína, poderíamos induzir uma resposta imunológica em pacientes com a doença mais agressiva e potencialmente mantê-los em remissão por um longo período de tempo”, conta o cientista.
Locke explica que as células dendríticas são aquelas que absorvem proteínas estranhas, decompõem-nas e apresentam os fragmentos (peptídeos) a outras células do sistema imune para estimular uma resposta.
Para aumentar o número de peptídeos de survivina apresentados ao sistema imune, a equipe então projetou células dendríticas para expressar uma versão da proteína inteira.
Respostas de anticorpos
A vacina em combinação com o transplante foi bem tolerada, apenas com efeitos adversos menores observados. As células T CD4 específicas para survivina e as células T CD8 circulantes aumentaram significativamente em aproximadamente 35% e 30% dos pacientes, respectivamente.
Anticorpos contra peptídeos de survivina foram detectados em 2 dos 13 participantes no início do estudo e em 9 deles após vacinação e transplante. “No geral, 85% dos pacientes tiveram uma resposta de células T ou uma resposta de anticorpos contra a survivina”, conta Locke.
Passados 90 dias após o transplante, sete pacientes presentaram uma resposta clínica melhorada (todos eles apresentando respostas imunes específicas para survivina). Já depois de 4,2 anos, seis destes sete ainda estavam vivos e permaneceram livres da doença.
“Nosso estudo mostrou que podemos direcionar a survivina com uma abordagem baseada em vacina e induzir respostas imunológicas, e sugeriu que essa estratégia poderia, em última análise, ajudar a melhorar os resultados dos pacientes”, resume o autor sênior da pesquisa.
Conforme acrescenta Locke, estudos maiores são necessários para confirmar as descobertas e avaliar se mudar a vacinação para uma fase mais precoce da doença ajudaria na prevenção de formas agressivas de mieloma.