Conhecido por interpretar Marty McFly na trilogia De Volta para o Futuro, o ator canadense Michael J. Fox tem uma fundação com seu nome para buscar a cura do Parkinson, doença neurogenerativa com a qual Fox foi diagnosticado em 1991, aos 29 anos.
O estudo e desenvolvimento da metodologia, conhecida como ensaio de amplificação de sementes de alfa-sinucleína (αSyn-SAA), foi publicado no The Lancet Neurology e realizado por líderes da Iniciativa de Marcadores de Progressão de Parkinson (PPMI). A iniciativa foi criada em 2010, com objetivo de estudar biomarcadores de Parkinson padrão-ouro, patrocinados pela Fundação Michael J. Fox para Parkinson's Research (MJFF).
Para que o teste funcione, é necessário que o fluído espinhal do paciente seja analisado a fim de identificar algum distúrbio relacionado à alfa-sinucleína, um biomarcador objetivo e confiável da biologia do Parkinson.
Participaram do estudo mais de 1.100 voluntários, incluindo indivíduos com Parkinson, outros com fatores de risco genéticos e/ou clínicos e pessoas não diagnosticadas a doença. Entre os participantes estavam idosos com mutações genéticas, perda de olfato ou distúrbio comportamental do sono REM (RBD) diagnosticado.
O RBD é um distúrbio do sono em que o indivíduo sonha que está batendo, socando ou chutando, e está associado a um risco significativo de desenvolver Parkinson ou doença neurodegenerativa semelhante. Ademais, o sintoma de perda de olfato duradoura e significativa é comum anos antes do diagnóstico do distúrbio, dizem os autores.
Resultados
Em uma análise em larga escala feita pela PPMI, foi confirmado que o teste pode distinguir Parkinson com uma sensibilidade incrivelmente robusta de 88% e especificidade de 96%. Entre as pessoas com perda de olfato e Parkinson esporádico (sem uma mutação genética causal conhecida), a precisão foi de 99%.
Entretanto, em alguns casos, a assertividade do teste foi menor. Apenas 68% dos casos de pessoas com a mutação no gene LRRK2, uma das causas associadas ao Parkinson, foram diagnosticados corretamente.
Considerando indivíduos com sem déficit olfativo, mas diagnosticados com Parkinson, os diagnósticos corretos aconteceram em 78% dos casos. Já pessoas com Parkinson, mutação no gene LRRK2 e capacidade de olfato normal eram ainda menos propensas a ser diagnosticadas positivamente nos testes.
Ademais, portadores não diagnosticados, mas em risco de uma mutação LRRK2 ou GBA (a ligação genética conhecida mais comum para a doença de Parkinson) eram menos propensos a apresentar resultados positivos.
Esses resultados indicam que nem todos os casos de sintomas clínicos de Parkinson estão associados ao acúmulo de agregados de alfa-sinucleína detectados por esse ensaio, e que os portadores da variante LRRK2, em particular, podem não apresentar esse biomarcador. Essa percepção abre novos caminhos de investigação para tratamentos que beneficiem mais pessoas com Parkinson.
Após as testagens, os autores compararam os resultados com os exames de imagem cerebral do transportador de dopamina (DAT), uma ferramenta que avalia a disfunção no transporte de dopamina e, consequentemente, indica Parkinson.
"Seria difícil exagerar as implicações dessa descoberta. Com desenvolvimento e dimensionamento, αSyn-SAA pode inaugurar a era da definição objetiva e biológica da doença de Parkinson - revolucionando todos os aspectos da pesquisa e cuidados", comenta em nota Deborah W. Brooks , diretora executiva do MJFF.
A importância do teste está em fornecer uma nova ferramenta para abordagens de medicina de precisão, intervenção precoce e design de ensaio clínico aprimorado. "Há muitas maneiras pelas quais estou envolvido com o trabalho da Fundação, mas cheguei a este resultado antes de mais nada como um paciente de Parkinson", diz Michael J. Fox. "Estou profundamente comovido com esse avanço e infinitamente grato aos pesquisadores, participantes e financiadores que se esforçaram para nos trazer até aqui.”