• Redação Galileu
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Descobertos mecanismos da Covid-19 que causam perda de olfato (Foto: RF._.studio/Pexels)

Descobertos mecanismos da Covid-19 que causam perda de olfato (Foto: RF._.studio/Pexels)

Apesar de ser considerada uma doença principalmente respiratória, a Covid-19 também desencadeia sintomas que afetam outros sistemas do corpo humano. A perda de olfato, por exemplo, tem sido reportada por pacientes desde o início da pandemia e, agora, pesquisadores conseguiram descrever, de forma mais precisa, os mecanismos envolvidos nesse fenômeno.

Publicado no início de maio no periódico Science Translational Medicine, o estudo descobriu que a condição tecnicamente conhecida como anosmia é causada pela deterioração do órgão sensorial localizado na parte posterior das cavidades nasais. 

A conclusão diverge de hipóteses levantadas previamente. Antes, acreditava-se que a perda do olfato acontecia em decorrência de um edema que impedia a passagem do ar que carrega as moléculas do odor para as células do nervo olfatório — o que gera a sensação de nariz congestionado em resfriados comuns.

“Observamos que o Sars-CoV-2 infecta não apenas os neurônios sensoriais, mas também o nervo olfatório e os centros do nervo olfativo no cérebro”, afirma, em nota, Pierre-Marie Lledo, um dos autores do artigo e cientista do Instituto Pasteur, na França.

A infecção, explicam os especialistas, provoca uma inflamação do sistema nervoso olfativo e leva à anosmia. “De acordo com os nossos resultados, a perda de olfato na Covid-19 pode afetar os pacientes por meses, o que atribuímos à persistência do vírus e da inflamação na mucosa olfativa”, diz Marc Lecuit, da Universidade de Paris.

Esse quadro também pode funcionar como uma porta de entrada para o cérebro e sinalizar, com a ajuda de pesquisas futuras, o motivo pelo qual alguns pacientes apresentam manifestações psicológicas, como ansiedade e depressão, enquanto outros desenvolvem problemas de natureza neurológica, como declínio de cognição e suscetibilidade a doenças neurodegenerativas.

Além de analisar o epitélio olfatório de sete indivíduos que contraíram o coronavírus, os pesquisadores realizaram estudos em hamsters. Assim, foi possível entender que, uma vez que o Sars-CoV-2 entra no bulbo olfatório, ele se espalha para outras estruturas nervosas e induz uma grande resposta inflamatória.

O estudo concluiu ainda que há casos em que o cotonete do teste RT-PCR pode testar negativo mesmo se o vírus estiver presente na parte posterior das cavidades nasais. Por isso, a técnica de escovação nasal é uma boa opção para a detecção do vírus em pessoas que relatam anosmia.