Droga contra malária pode combater síndrome do ovário policístico

Em testes clínicos, 19 mulheres receberam o medicamento e apresentaram a diminuição dos sintomas da condição em até 12 semanas

Por Redação Galileu


Droga contra malária pode ajudar a combater síndrome do ovário policístico Pexels

Um estudo de cientistas chineses publicado na Science sugere que um medicamento usado contra malária pode ser uma opção eficiente para a síndrome dos ovários policísticos (SOP). O fármaco em questão é a artemisinina, usado na medicina tradicional chinesa e obtido a partir do extrato de ervas. Nos testes, a substância pareceu capaz de interromper o excesso de produção de testosterona nos ovários.

Uma das características da síndrome dos ovários policísticos está relacionada ao excesso de testosterona. Esse desequilíbrio hormonal afeta a ovulação, resultando em períodos menstruais irregulares e impactando a fertilidade.

Além disso, a SOP pode trazer outros malefícios à saúde, como nos casos em que a paciente desenvolve resistência à insulina, aumentando o risco de obesidade, doenças cardíacas e diabetes. Níveis altos de testosterona também podem ocasionar maior quantidade de pelos faciais e acne, além de ciclos menstruais irregulares e problemas de fertilidade.

O ciclo de ovulação normalmente envolve o amadurecimento sequencial de folículos no ovário, em que um folículo é selecionado a cada mês para amadurecer completamente e liberar um óvulo. Em pacientes com SOP, os folículos estão hiperativos, o que significa que muitos deles estão amadurecendo ao mesmo tempo.

O estudo

Em um teste experimental, 19 mulheres com SOP receberam artemisinina durante 12 semanas. Como resultado, elas tiveram uma redução significativa nos níveis hormonais e uma ultrassonografia mostrou uma redução de folículos. Além disso, períodos menstruais regulares foram restaurados em 12 participantes, o que representa 63% do total. Não houve relatos de efeitos colaterais negativos.

O estudo sugere que a artemisinina bloqueia uma enzima denominada CYP11A1, responsável pela produção de testosterona nos ovários. Em experimentos feitos em camundongos e ratos com condições semelhantes a SOP, os resultados mostraram que o medicamento reduziu a testosterona e restaurou a fertilidade.

"Com base em nossas descobertas, as artemisininas são candidatas promissoras para o tratamento da SOP porque inibem fortemente a síntese de andrógenos ovarianos, reduzem os folículos imaturos e melhoram o ciclo menstrual", disse o professor Qi-qun Tang, que liderou a pesquisa na Universidade Fudan em Xangai, em entrevista ao The Guardian.

As mulheres participantes permaneceram com a menstruação regular por mais 12 semanas após terem parado de tomar o medicamento. Agora, estamos estendendo este período de observação para determinar se há uma recaída após um período mais longo sem o medicamento", explica Tang. O professor também acrescentou que a equipe estava trabalhando em aprimorar a dosagem e o cronograma do medicamento para realizar um ensaio clínico maior.

As descobertas feitas são consideradas um potencial avanço para a saúde feminina, podendo trazer uma nova forma de tratar a condição que afeta cerca de uma em cada dez mulheres.

Atualmente, os tratamentos envolvem uso de pílula contraceptiva, que acaba com a produção de testosterona e ajuda a regular os períodos menstruais, como também controla os sintomas da SOP. Alguns medicamentos para a fertilidade ou cirurgia também podem contribuir para estimular a ovulação em mulheres com a síndrome que não conseguem engravidar. Entretanto, esses procedimentos não são totalmente eficazes e nem adequados para todos os casos.

Para analisar os potenciais efeitos e riscos de tomar o medicamento por um período prolongado, será necessário realizar um ensaio clínico maior. Também é preciso avaliar se o medicamento é capaz de restaurar a fertilidade, além de mapear potenciais problemas de se usar um remédio supressor hormonal durante a gestação.

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