Arte

Por Redação Galileu

Uma nova pesquisa publicada em 15 de dezembro na revista Science Advances revelou que o pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn cobriu a tela da famosa pintura "A Ronda Noturna" (1642) com uma substância contendo chumbo mesmo antes de aplicar a primeira camada de preparação.

Anteriormente, um estudo divulgado em janeiro havia indicado que a obra continha traços de acetato de chumbo, uma substância que provavelmente era fundida à mistura de tinta e óleo com a qual o artista trabalhava. Em 2019, pesquisadores apontaram que uma espécie de monóxido de chumbo também era utilizada para o mesmo fim.

Mas a nova pesquisa aponta que o chumbo pode não estar apenas na mistura de tinta, mas na própria preparação pré-tintura da tela. Tal processo nunca havia sido observado anteriormente em obras de Rembrandt ou seus contemporâneos.

Os cientistas liderados por Fréderique Broers, pesquisadora do museu Rijksmuseum, na Holanda, amostraram um pequeno fragmento de tinta de "A Ronda Noturna". Em seguida, a equipe conduziu uma análise no instituto de física Deutsches Elektronen-Synchrotron (DESY), em Hamburgo, Alemanha.

Broers e colaboradores utilizaram uma combinação de fluorescência de raios-X e nanotomografia para identificar e visualizar compostos químicos nas camadas inferiores da tela. Eles descobriram uma camada rica em chumbo abaixo da camada de preparação de quartzo-argila da obra.

Renderização tridimensional do sinal de chumbo — Foto: Broers et al
Renderização tridimensional do sinal de chumbo — Foto: Broers et al

Em pinturas anteriores, os pesquisadores já sabiam que Rembrandt usava camadas duplas: uma de pigmentos de terra vermelha e outra de branco de chumbo. Como "A Ronda Noturna" era um quadro grande, isso pode ter motivado o holandês a procurar uma opção mais barata e menos pesada para a camada de preparação.

Rembrandt pode ter se preocupado também com a umidade da parede externa do grande salão do Kloveniersdoelen, em Amsterdã, onde a obra seria exposta. Havia relatos de que, sob condições úmidas, o método comum de preparar a tela usando cola de origem animal poderia falhar.

Uma fonte contemporânea sobre técnicas de pintura escrita por Théodore de Mayerne sugeria a embebição com óleo rico em chumbo como saída. Isso pode ter inspirado o pintor a realizar o procedimento incomum com o metal para melhorar a durabilidade de sua obra-prima.

Comparação de amostras da obra "A Ronda Noturna" de Rembrandt — Foto: Broers et al
Comparação de amostras da obra "A Ronda Noturna" de Rembrandt — Foto: Broers et al

Os cientistas notaram que, no lado da amostra mais próximo do suporte da tela, uma camada homogênea de chumbo estava presente na camada de preparação. Os resultados foram combinados com um mapa de distribuição da substância na obra completa, obtido por varredura de fluorescência de raios-X.

O mapa revelou chumbo em toda a pintura, atualmente exposta na Galeria de Honra do Rijksmuseum, e sugeriu sua aplicação usando pinceladas semicirculares grandes. Foi visível no mapeamento até mesmo uma marca do estrado original sobre o qual a tela foi esticada quando as camadas preparatórias foram aplicadas.

A descoberta, segundo comunicado, "sublinha como Rembrandt era inventivo em seu trabalho, no qual ele não hesitou em usar novas técnicas" e nos aproxima de entender seu processo criativo ao pintar a obra, bem como sua condição atual.

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