Arte

Por Redação Galileu

A obra A Ronda Noturna, pintada em 1642 e exposta no Rijksmuseum, em Amsterdã, é considerada o quadro mais famoso do pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn. Preservada há mais de 380 anos, a tela passou por um recente estudo científico que revelou uma descoberta surpreendente: traços de um composto chamado acetato de chumbo (II). Até então, esse composto nunca havia sido relatado em telas a óleo históricas.

O achado fornece uma nova visão sobre a técnica de pintura do século 17 e a história da conservação do quadro. A descoberta foi realizada por meio da Operação Night Watch, um projeto online criado pelo Rijksmuseum que aborda a restauração da obra de Rembrandt.

A equipe de investigação contou com cientistas da Bélgica, Holanda e França, e os resultados foram publicados na revista Angewandte Chemie no início de janeiro. “Em pinturas, os formatos de chumbo foram relatados apenas uma vez em 2020, mas em quadros de modelo com tintas frescas”, explica Victor Gonzalez, pesquisador do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS, sigla em francês), na França, em comunicado.

Compostos raros

Na análise química, a equipe aplicou uma combinação de métodos de estudo de imagem em várias escalas. Além de utilizar um instrumento de varredura de raios X desenvolvido na Universidade da Antuérpia, na Bélgica, a equipe também retirou micropartículas do quadro para serem avaliadas com sondas de raios X síncrotron micro, na Instalação Europeia de Radiação Síncrotron (ESRF, sigla em inglês) e na instalação PETRA-III, na Alemanha.

Esses dois tipos de análises revelaram a presença do acetato de chumbo (II), um composto organometálico inesperado. Essa não é a primeira vez que o artista holandês mistura arte e química.

Em 2019, Gonzalez, juntamente com sua equipe, descobriu que o Rembrandt também usava uma espécie de monóxido de chumbo, de modo proposital. O artista adicionava esse composto à mistura de óleo e tinta com a qual criava seus trabalhos. A técnica influenciou tanto a durabilidade quanto a textura de seus quadros.

Distribuição de fases cristalinas obtida por meio de imagens estruturais em uma área de "A Ronda Noturna" (1642), de Rembrandt van Rijn (1606-1669). — Foto: Antwerp X-ray Imaging and Spectroscopy Research group - University of Antwerp, Belgium
Distribuição de fases cristalinas obtida por meio de imagens estruturais em uma área de "A Ronda Noturna" (1642), de Rembrandt van Rijn (1606-1669). — Foto: Antwerp X-ray Imaging and Spectroscopy Research group - University of Antwerp, Belgium

Os especialistas acreditam que o acetato de chumbo também foi utilizado com essa mesma função. “O acetato de chumbo nos dá novas pistas valiosas sobre o possível uso de tinta a óleo à base de chumbo por Rembrandt e o impacto potencial de vernizes à base de óleo de tratamentos de conservação anteriores e a química complexa de pinturas a óleo históricas”, completa Katrien Keune, chefe de ciência do Rijksmuseum e professora da Universidade de Amsterdã.

A grande surpresa, segundo o Gonzalez, é que o chumbo foi identificado em áreas onde tecnicamente não havia pigmentos ligados ao metal. “Achamos que provavelmente a substância desaparece rapidamente, por isso não foram detectadas nas pinturas de grandes artistas até agora”, avalia o especialista.

Técnicas de pintura

Keune conta que entender como esse composto desaparece com os anos e qual sua origem é fundamental para compreender melhor as técnicas utilizadas por Rembrandt. Para responder a essas perguntas, os cientistas estudaram fragmentos retirados de A Ronda Noturna e amostras de modelos preparados em laboratório simulando as formulações do pintor.

Eles trabalharam com a hipótese de que Rembrandt usou um meio orgânico (óleo de linhaça) contendo óxido de chumbo dissolvido para aumentar suas propriedades secativas. “Graças ao desempenho analítico único do ESRF e a fonte de luz síncrotron mais brilhante do mundo, pudemos mapear a presença de chumbo em escala micrométrica e acompanhar sua formação ao longo do tempo”, explica Marine Cotte, cientista do ESRF.

O próximo passoé estudar mais a origem desses formatos e ver se eles também podem se originar de tratamentos de restauração anteriores. Responder a essas questões trará explicações sobre os mecanismos químicos ativos em pinturas antigas.

“Além de fornecer informações sobre as técnicas pictóricas de Rembrandt, essa pesquisa abre novos caminhos sobre a reatividade dos pigmentos históricos e, portanto, sobre a preservação do patrimônio”, finaliza Koen Janssens, professor da Universidade da Antuérpia.

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