Mulheres das Estrelas

Por Ana Posses

Ana Carolina Posses (@astroposses) é astrônoma e estuda galáxias no início do Universo

Em alguns bilhões de anos, a Via Láctea, nossa galáxia se unirá à galáxia espiral Andrômeda, um pouco maior e mais massiva. E essa não será a primeira vez que nossa galáxia passará por um evento de tamanha magnitude.

Interações gravitacionais são eventos muito frequentes na vida de uma galáxia. As primeiras galáxias se formaram há mais ou menos 13 bilhões de anos e tinham tamanho similar ao da Pequena e da Grande Nuvens de Magalhães, as galáxias anãs que orbitam a Via Láctea e são visíveis a olho nu no céu noturno (sem poluição luminosa, claro).

Acreditamos que essas pequenas galáxias cresceram a partir de constantes fusões, ou seja, quando o material de duas galáxias se une e forma uma só. A última fusão da Via Láctea aconteceu há cerca de 10 bilhões de anos, com a galáxia Gaia-Enceladus.

Uma interação gravitacional caracteriza-se como o processo de encontro entre duas ou mais galáxias próximas o suficiente para que a força gravitacional de uma altere as propriedades físicas da outra. Em alguns casos, principalmente quando a velocidade entre as duas galáxias é muito grande, a interação é pontual e não termina em uma fusão. Parte do gás e das estrelas pode ser ejetada para fora de cada galáxia.

Há situações, porém, em que galáxias podem se unir em uma só, e o resultado depende principalmente da diferença de massa entre elas. Quando a diferença de massa é grande, chamamos de fusão menor. Nesse caso, a galáxia menos massiva é canibalizada pela galáxia maior.

É o que aconteceu (e vai acontecer) com as várias galáxias anãs que orbitam a Via Láctea. A gravidade da nossa galáxia retira do interior dessas galáxias pequenininhas gás e estrelas. Pelas forças de maré sofridas, seu material é aos poucos acrescentado à galáxia massiva. Exemplo de duas galáxias anãs que estão atualmente em processo de acreção: Sagitário e Cão Maior.

Quando o encontro é entre galáxias mais massivas, como o caso da Via Láctea e de Andrômeda, chamamos de fusão maior. Nesse cenário, a estrutura das duas galáxias é completamente destruída e rearranjada. Numa fusão de espirais, por exemplo, seus braços, onde há estrelas se formando, são facilmente rompidos, gerando assinaturas como caudas e pontes.

Galáxia Andrômeda — Foto: NASA/JPL/California Institute of Technology
Galáxia Andrômeda — Foto: NASA/JPL/California Institute of Technology

Os gases das galáxias também se chocam e são comprimidos, o que é necessário para formar novas estrelas. Portanto, é muito comum ver um surto de formação de estrelas no período após a união entre galáxias.

As fusões maiores modificam completamente as galáxias envolvidas. Hoje, seguimos a linha de pensamento de que fusões de galáxias espirais destroem seus braços e dão vida às galáxias elípticas.

E o que pode acontecer com a Terra? Bem, daqui alguns bilhões de anos, a morte do Sol estará próxima. Em seus estágios finais, a estrela se expandirá e possivelmente engolirá nosso planeta. Mas, falando da colisão com Andrômeda, a distância entre as estrelas de cada galáxia é tão grande que é muito improvável elas se chocarem.

Mas o gás, como vimos, se choca e assim favorece a formação de novas estrelas. E isso pode ser um problema. Sem contar que poderemos ser ejetados para o meio intergaláctico. Mas não se preocupe, isso só vai acontecer daqui no mínimo uns 4 bilhões de anos!

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