Mulheres das Estrelas

Por Ana Posses

Ana Carolina Posses (@astroposses) é astrônoma e estuda galáxias no início do Universo

Pode parecer estranho, mas as cores do sol se põem com tempos diferentes. Já que o pôr do sol é amarelado, podemos dizer que o amarelo é a cor final? Vamos tentar responder a essa pergunta nesta coluna.

A luz solar, na verdade, é composta de todas as cores. Próximo ao meio-dia, vemos seus feixes na coloração branca, pois é como o cérebro interpreta essa mistura de cores. Na verdade, o Sol não é feito só desse tipo de luz. O ultravioleta, que tanto nos preocupa no verão, é também um dos tipos de luz que o sol emite, mas que nosso cérebro não consegue interpretar.

Uma das propriedades mais legais da luz é que ela muda de direção quando passa de um meio para o outro. Por exemplo, a água e o ar são meios diferentes, porque são compostos de partículas e, principalmente, diferentes. A luz que estava viajando pelo ar e, quando adentra a água, muda de direção. O mesmo acontece quando ela sai da água para o ar. O efeito visual é que os objetos estão deslocados dentro da água.

E mais: as cores são desviadas por ângulos diferentes. Se pensarmos no arco-íris, as cores vermelhas são menos desviadas, ao passo que as cores mais próximas do azul e violeta são mais desviadas. Um prisma deixa isso muito claro: como elas sofrem deslocamentos diferentes, conseguimos separar um feixe branco de luz solar em diferentes cores.

A atmosfera funciona como um prisma. Quando os feixes de luz solar entram na atmosfera, suas cores mudam de direção. Portanto, podemos pensar que, na verdade, a imagem do Sol é formada por uma sobreposição de uma infinidade de sóis de diferentes cores. Da mesma maneira que um prisma, a atmosfera separa essas "imagens".

Imagem colorida é um 'espectro de flash da cromosfera' captado durante o eclipse solar total que ocorreu nos Estados Unidos, em 21 de agosto de 2017. — Foto: ESA/M. Castillo-Fraile
Imagem colorida é um 'espectro de flash da cromosfera' captado durante o eclipse solar total que ocorreu nos Estados Unidos, em 21 de agosto de 2017. — Foto: ESA/M. Castillo-Fraile

Como a luz vermelha é menos desviada durante o pôr do sol, fenômeno que chamamos de refração, ela acaba se pondo antes do que as cores mais próximas do azul. Mas por que não conseguimos ver essa diferenciação? Bem, a diferença de tempo entre o sol vermelho e o sol violeta é de apenas dois segundos. O efeito é bastante sútil.

Só que, se for assim, faria sentido vermos um sol azul nos segundos finais de um dia, certo? Aí entra outro fenômeno físico: o espalhamento. A atmosfera é composta de uma infinidade de partículas que interagem com a luz do sol. Essas partículas são capazes de desviar também as cores, mas em direções aleatórias.

As cores que são mais afetadas por isso são justamente violeta e azul. Isso significa que elas quase não chegam até nós, porque à medida que se deslocam pela atmosfera da Terra, elas são espalhadas para outras direções. Aliás, esse é o principal motivo pelo qual a cor do sol poente é mais avermelhada.

Esse fenômeno é chamado de "flash verde". Nos últimos segundos do pôr do sol, na sua pontinha final, é como se você visse um raio verde, com uma duração muito rápida.

Para isso, porém, a atmosfera precisa estar suficientemente limpa, pois partículas de poeira podem agravar esse espalhamento. Em uma atmosfera muito poluída, a luz verde é atenuada, e o efeito se perde. Em raríssimas exceções, numa atmosfera muito "limpa", podemos até ver um flash azul.

Mas cuidado: olhar para o sol durante muito tempo pode ser perigoso para seus olhos. Se quiser admirar esse fenômeno, use óculos escuros e abuse da sua câmera.

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