Dez novas espécies de trilobitas — pequenos artrópodes do Paleozoico – que remontam a 490 milhões de anos atrás foram descobertas em uma parte pouco estudada da Tailândia. O achado pode ajudar a desvendar um enigma da antiga geografia mundial.
As novas espécies foram descritas em estudo publicado na revista Papers in Palaeontology em 4 de outubro e divulgado pela Universidade da Califórnia em Riverside, nos Estados Unidos, na segunda-feira (20). Uma delas, Tsinania sirindhornae, foi nomeada em homenagem à Princesa Real Tailandesa Maha Chakri Sirindhorn.
As demais espécies são: Pseudokoldinioidia maneekuti, Pagodia ? uhleini, Asaphellus charoenmiti, Tarutaoia techawani, Jiia talowaois, Caznaia imsamuti, Anderssonella undulata, Lophosaukia nuchanongi e Corbinia perforata.
![Trilobitas Homagnostus sp.relatados no estudo — Foto: Shelly J. Wernette et al](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/hdRmHLgC3-a9O2vu1XhNoAtkT1g=/0x0:2128x2505/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/r/b/koHGb9SBy5XAeHUqlyuw/spp21516-fig-0013-m.jpg)
Os trilobitas são criaturas marinhas extintas com cabeças em forma de meia lua que respiravam através de suas pernas e mediam entre 3 a 10 cm de comprimento. Os fósseis das criaturas descritas na nova pesquisa estavam na costa de uma ilha tailandesa chamada Ko Tarutao, que faz parte de um local de geoparque da Unesco.
Os animais fossilizados estavam presos entre camadas de cinzas petrificadas em arenito. Isso devido a antigas erupções vulcânicas, que se depositaram no fundo do mar, originando uma camada verde chamada tufo.
![Local da escavações dos trilobitas na Tailândia — Foto: Shelly J. Wernette et al](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/DBoZ0QydqMIUx6nE6onOO9jX1R8=/0x0:2128x2150/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/n/x/QbuoO8REaEs3BkTwRD6Q/spp21516-fig-0005-m.jpg)
O tufo, diferentemente de alguns outros tipos de rochas ou sedimentos, contém cristais de zirconita — um mineral tão duro quanto o aço, formado durante uma erupção, resistente ao calor e às intempéries.
Dentro desses cristais de zirconita resilientes, átomos de urânio gradualmente decaem e se transformam em átomos de chumbo. "Podemos usar técnicas de isótopo radioativo para datar quando o zircão se formou e, assim, encontrar a idade da erupção, bem como do fóssil", explica em comunicado Nigel Hughes, coautor do estudo e professor de geologia da Universidade da Califórnia em Riverside.
Segundo o pesquisador, é raro encontrar tufo no período da descoberta, o final do Cambriano, entre 497 e 485 milhões de anos atrás. "Não muitos lugares ao redor do mundo têm isso. É um dos intervalos de tempo pior datados na história da Terra", ele diz.
Mistério geológico do passado
Quando os trilobitas eram vivos, há 490 milhões de anos, os pesquisadores acreditam que a região da Tailândia estava nas margens externas de Gondwana, um antigo supercontinente que incluía África, Índia, Austrália, América do Sul e Antártica.
"Porque os continentes se movem ao longo do tempo, parte do nosso trabalho tem sido descobrir onde esta região da Tailândia estava em relação ao resto de Gondwana", disse Hughes. "É um quebra-cabeça tridimensional em constante movimento que estamos tentando montar".
Além de finalmente poderem desvendar onde a Tailândia estava em Gondwana, resolvendo de vez este enigma, os cientistas querem usar o tufo para entender melhor partes do mundo como China, Austrália e até América do Norte.
Nessas regiões, "fósseis semelhantes foram encontrados em rochas que não podem ser datadas", conforme afirma Shelly Wernette, ex-geóloga do laboratório de Hughes, e primeira autora do estudo. Isso significa que as descobertas poderão contribuir com essas datações inéditas.
Por exemplo, se os cientistas datarem os tufos que contem a espécie Tsinania sirindhornae, eles possivelmente poderão dizer que as espécies de Tsinania encontradas no norte e sul da China são aproximadamente da mesma idade.
Wernette destaca ainda que foram descobertos pela equipe 12 tipos de trilobitas que já vistos em outras partes do mundo, mas nunca antes observados nos registros tailandeses. "Podemos agora conectar a Tailândia a partes da Austrália, uma descoberta realmente empolgante", ela afirma.