Ciência

Por Redação Galileu

Falar sobre o clitóris — e, consequentemente, o prazer feminino — ainda é um tabu social. Mais do que isso, existe uma grande lacuna científica no que se refere a esse órgão, sobretudo em comparação à genitália masculina. Essa escassez de pesquisas fica ainda mais evidente ao olhar para outros animais além do ser humano.

Agora, um novo estudo apresentado na conferência anual da Sociedade de Biologia Experimental parece ter dado o primeiro passo em direção a essa compreensão. O projeto foi capaz de desenvolver imagens sofisticadas que revelam a variedade dos clitóris entre espécies de macacos, símios, lêmures e társios.

“Quando começamos, tínhamos como guia apenas os trabalhos anteriores sobre o clitóris humano”, relata o pesquisador Daniel Varajão de Latorre, da Universidade Metropolitana de Manchester, na Inglaterra, em comunicado à imprensa. Mas, rapidamente, a equipe percebeu que em muitas das espécies de primatas analisadas o clitóris difere significativamente dos humanos.

Dificuldades técnicas

Já é sabido que 90% do clitóris humano é interno, com apenas uma pequena glande externa. Mas essa característica não é regra entre os primatas. Assim, devido às dificuldades de identificação das estruturas internas, a equipe fez uso de ressonâncias magnéticas e tomografias computadorizadas com contraste de iodo difusível.

Renderização de modelo 3D de estruturas de clitóris de chimpanzés — Foto: Charlotte Brassey
Renderização de modelo 3D de estruturas de clitóris de chimpanzés — Foto: Charlotte Brassey

“Muitos dos tecidos que estamos interessados ​​em estudar são extremamente frágeis e pode ser difícil entender sua arquitetura usando a dissecação manual destrutiva”, destaca Latorre. “Essas técnicas menos invasivas são ótimas para estudar seus tamanhos e construir moldes 3D.”

Pelos exames, comprovou-se a diversidade de formatos e tamanhos nos clitóris de primatas. Nas fêmeas de macaco-aranha, por exemplo, o tecido é longo e tem sido associado à comunicação química com os machos. Já o clitóris dos lêmures de cauda anelada foi descrito como 'masculinizado', porque é alongado e escavado pela uretra.

Havia décadas, os cientistas já tinham registros das diversas estruturas morfológicas genitais dos primatas machos. Mas as concepções sobre essa região anatômica feminina eram baseadsa em especulações feitas a partir apenas de observações externas.

“Acreditava-se que os clitóris também eram diversos, mas não era possível determinar quão extensos eram internamente, nem como estavam evoluindo em relação ao sistema social e às estratégias reprodutivas”, explica Charlotte Brassey, que também assina a pesquisa.

Perspectiva de novos estudos

Nos machos, as diferentes morfologias são entendidas como um reflexo das práticas de acasalamento. A relação entre a complexa anatomia do clitóris e os comportamentos sociais primatas permanece desconhecida.

Mas os responsáveis pelo estudo sugerem que os resultados observados por eles podem ajudar a esclarecer um pouco mais sua história evolutiva. “A genitália feminina tem sido cronicamente pouco estudada em comparação com a masculina, em parte devido a preconceitos sociais e em parte devido a desafios metodológicos”, pondera Brassey. “Agora, usando os mais recentes avanços em imagens médicas, temos a oportunidade de abordar esse viés.”

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