O número de pessoas afetadas por ciclones tropicais quase dobrou em pouco menos de uma década: foi de 408 milhões de indivíduos em 2002 a cerca de 800 milhões em 2019. Os dados são de um estudo publicado na última quarta-feira (20) na revista Nature que avaliou todos os tipos de ciclones tropicais, incluindo furacões e tufões.
Ligados a universidades dos Estados Unidos e da Bélgica, os pesquisadores apontam que entre 6% e 12% da população mundial está exposta a esse tipo de perturbação atmosférica todos os anos, com essas pessoas enfrentando ventos em velocidades mais baixas na maioria das vezes. Essa exposição frequente pode ter impactos desproporcionais em países de baixa e média renda.
O estudo aponta que, em um mesmo país, pessoas expostas a ciclones tropicais são menos favorecidas a nível socioeconômico do que aquelas não expostas. Além disso, houve uma mudança na distribuição etária: no início dos anos 2000, os mais afetados eram crianças com menos de 5 anos; agora, são pessoas com 60 anos ou mais.
Dentro do período estudado, 117 países e regiões foram impactados. Estima-se que 95% de todos os dias de exposição de pessoas aos fenômenos aconteceu na costa Atlântica da América do Norte e Central (5%), do Caribe (3%), da península coreana e do Japão (6%), da costa leste da Ásia (43%), do Sudeste Asiático (24%) ou do leste da Índia e da Baía de Bengala (14%).
Já os cinco principais países ou regiões com a maior exposição de pessoas-dias foram a costa da China (33% do total), o Japão (19%), as Filipinas (10%), Taiwan (9%) e os Estados Unidos (4%). Ainda, uma média de aproximadamente 560 milhões de pessoas foram expostas a ciclones tropicais com velocidade máxima do vento de ao menos 63 quilômetros por hora a cada ano dentro do período estudado.
Um terço do aumento das populações expostas pode ser atribuído ao crescimento populacional, enquanto os outros dois terços seriam causados por mudanças nos riscos de ciclones tropicais, estimam os pesquisadores.
"Dadas as projeções de aumento da intensidade das tempestades no futuro, é razoável esperar um aumento contínuo no número de pessoas expostas às tempestades mais intensas, o que representa muitos desafios para o futuro", comentou em comunicado Zachary Wagner, autor sênior do estudo e economista da organização de pesquisa sem fins lucrativos RAND Corporation.
Para os autores, identificar e caracterizar os padrões de vulnerabilidade das populações expostas pode ajudar no planejamento de estratégias para mitigar danos e avaliar riscos. Uma preocupação central da ciência climática são os riscos a saúde decorrentes de fenômenos naturais como esses – a combinação de ventos fortes, chuvas intensas e sistemas de baixa pressão pode levar não apenas à destruição em grande escala como a riscos de doenças e mortalidade.