Por muito tempo, Marte tem sido considerado geologicamente "morto". Mas um novo estudo revela que o planeta vermelho teve um vulcanismo recente — e pode ser mais ativo do que se esperava. A pesquisa foi publicada em 15 de dezembro na revista Journal of Geophysical Research: Planets.
Uma equipe de cientistas planetários liderados por pesquisadores da Universidade do Arizona (UArizona), nos Estados Unidos, documentou mais de 40 eventos vulcânicos de um passado não tão distante em Marte. Alguns deles ocorreram há cerca de 1 milhão de anos, segundo estimativas.
No novo estudo, os pesquisadores combinaram imagens de uma sonda e medições de radar penetrante no solo para reconstruir em 3D cada fluxo de lava na planície marciana de Elysium Planitia. Em 2022, uma equipe também da UArizona havia apresentado evidências de intensa atividade vulcânica nessa mesma região.
"Elysium Planitia é o terreno vulcânico mais jovem do planeta, e estudá-lo nos ajuda a entender melhor o passado de Marte, bem como sua história hidrológica e vulcânica recente", escrevem os pesquisadores em seu artigo.
A equipe usou imagens da câmera Context a bordo da sonda Reconnaissance Orbiter da Nasa, combinadas com imagens de ainda maior resolução da câmera HiRISE da UArizona em áreas selecionadas. Registros de dados do Mars Orbiter Laser Altimeter em outra espaçonave da Nasa, a Mars Global Surveyor, forneceram informações topográficas.
Esses dados de levantamento foram então combinados com medidas de radar subsuperficial obtidas com a sonda Shallow Radar, ou SHARAD, da Nasa. "Com o SHARAD, conseguimos olhar até 140 metros abaixo da superfície", disse Joana Voigt, líder da pesquisa, em comunicado.
Um dos maiores eventos vulcânicos analisados pelos cientistas ocorreu no vale Athabasca Valles, com mais de 4 mil km³ de basalto. Para a Voigt, Elysium Planitia pode estar vulcanicamente ativa até hoje.
![Esta imagem obtida pela sonda orbital Mars Express mostra uma vista oblíqua focada num dos vastos fluxos de lava em Elysium Planitia — Foto: ESA/DLR/FU Berlim](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/vNC1cRrUaYd6l5cD1rqja5T0DCg=/0x0:1280x604/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/Q/S/c8u2R5TFuSaszC3hNeNg/recent-volcanism-on-ma-1.jpg)
Uma série de terremotos marcianos registrados pela sonda InSight da Nasa entre 2018 e 2022 também forneceu evidências de que o planeta vermelho está longe de estar morto. "Nosso estudo fornece o relato mais abrangente do vulcanismo recente em um planeta que não seja a Terra", considera o colíder da pesquisa, Christopher Hamilton, professor associado no Laboratório Lunar e Planetário da UArizona.
Presença de vapor d´água
Em toda Elysium Planitia, os cientistas encontraram amplas pistas de explosões de vapor – algo que desperta grande interesse para astrobiólogos, pois essas atividades podem ter criado ambientes hidrotermais propícios à vida microbiana.
"Quando há uma rachadura na crosta marciana, a água pode fluir para a superfície. Devido à baixa pressão atmosférica, é provável que essa água literalmente evapore", explica Hamilton. "Mas se houver água suficiente saindo durante esse período, pode ocorrer uma inundação enorme que passa por cima da paisagem e esculpe essas características enormes que vemos".
Entender como a água se moveu em Marte no passado e onde está hoje é uma questão de "santo graal" para os cientistas. Já que é muito mais fácil de pousar nas regiões equatoriais, onde está Elysium Planitia, do que nas latitudes mais altas do planeta, a presença de água e a compreensão dos mecanismos de sua liberação podem ajudar futuras missões humanas.