Com o satélite Characterising ExOPlanet (Cheops) da Agência Espacial Europeia (ESA), cientistas confirmaram a detecção de um curioso sistema de seis planetas. Os astros orbitam em sincronia em torno da estrela HD110067, localizada a cerca de 100 anos-luz de distância, na constelação norte de Coma Berenices.
A descoberta foi registrada ontem (29) na revista Nature. Os primeiros indícios do sistema recém-confirmado foram detectados em 2020 pelo Satélite de Pesquisa de Exoplanetas em Trânsito da Nasa (TESS), que identificou quedas na luminosidade da estrela – um indicador de que astros estavam passando na sua frente.
Uma análise preliminar revelou a possibilidade de dois planetas: um que levava 5.642 dias para fazer uma órbita em torno da estrela, e outro com um período orbital que, naquele momento, não podia ser determinado.
Dois anos depois, o TESS observou a mesma estrela novamente. Uma nova análise descartou a interpretação original, mas apresentou duas possíveis detecções de planetas diferentes, levantando novas suspeitas. "Foi quando decidimos usar o Cheops. Fomos procurar sinais entre todos os possíveis períodos que esses planetas poderiam ter", diz Rafael Luque, da Universidade de Chicago, líder do estudo, em comunicado.
Por meio do Cheops, os astrônomos acabaram concluindo que havia um total de seis mundos no sistema, e perceberam que três deles estavam em ressonância orbital. Segundo o periódico Astronomy & Astrophysics, na mecânica celeste, "dois corpos estão em ressonância orbital se seus períodos orbitais puderem ser expressos como uma proporção de dois números inteiros". É o caso de quando um planeta leva aproximadamente duas vezes mais tempo para orbitar sua estrela-mãe do que outro planeta no mesmo sistema; neste exemplo, diz-se que os dois mundos estão "em ressonância 2:1".
No sistema da estrela HD110067, o planeta mais externo leva 20,519 dias para completar sua órbita – praticamente 1,5 vezes o período orbital do planeta seguinte, que é de 13,673 dias. Este mundo, por sua vez, tem quase exatamente 1,5 vez o período orbital do planeta mais interno, o qual conta 9,114 dias.
"Achamos que apenas cerca de um por cento de todos os sistemas permanecem em ressonância", conta Luque, acrescentando que o sistema recém-descoberto "mostra a configuração prístina de um sistema planetário que sobreviveu intocado".
Conforme a ESA, HD110067 é o sistema mais brilhante conhecido com quatro ou mais planetas. Como esses planetas são todos de tamanho sub-Netuno (maiores que a Terra e menores que o planeta Netuno), com atmosferas provavelmente estendidas, eles se tornam candidatos ideais para o estudo da sua composição atmosférica usando o Telescópio Espacial James Webb e os futuros telescópios Ariel e Plato da agência europeia.
A animação a seguir ilustra as órbitas dos seis planetas no sistema HD110067: