Especialistas de um aquário na Carolina do Norte, nos Estados Unidos, fizeram ultrassons em uma arraia e descobriram que ela está grávida. Detalhe é que a fêmea vive sozinha — isto é, sem a presença de uma arraia macho em seu tanque.
A equipe que anunciou a gestação inesperada no último dia 6 de fevereiro no Facebook levantou duas hipóteses para explicar o evento: a arraia pode ter passado por partenogênese (reprodução assexual) ou até mesmo ter engravidado de um tubarão.
"Nossa arraia, Charlotte, está grávida! Mantivemos isso próximo ao nosso coração por mais de 3 meses", anunciou o Aquário e Laboratório de Tubarões da Equipe Ecco, em Hendersonville. "Temos imagens de ultrassom confirmadas por dois apoiadores: Dr. Robert Jones, o veterinário do Aquário da Austrália, e Becka Campbell, doutora pela Universidade Estadual do Arizona. A coisa realmente surpreendente é que não temos uma arraia macho!".
O aquário inicialmente pensou que a arraia Charlotte tinha câncer quando ela começou a inchar. No entanto, um ultrassom posterior revelou a presença de ovos, segundo contou em artigo April Smith, diretora da iniciativa de promoção à ciência North Carolina Science Trail.
Segundo explica Smith, a partenogênese é a reprodução assexuada de um organismo na qual uma fêmea produz um embrião sem a presença de um macho para fertilizar o óvulo. " Isso significa que a prole é, geralmente, toda feminina, e isso ocorre em uma situação em que não há machos presentes (ou seja, em zoológicos/aquários normalmente, ou talvez em um ambiente natural isolado como o mar profundo)", afirma a especialista.
A partenogênese é um "mecanismo de sobrevivência que permite a preservação de uma espécie", acrescenta Smith. Mesmo que os animais em aquários sejam muito bem cuidados, ecologicamente, esse fenômeno é visto somente em uma situação em que a natureza tem uma "preocupação" sobre a falta de reprodução de certos genes.
Tubarão "papai"?
Desde setembro de 2023, quando Charlotte começou a ficar inchada, a equipe do aquário tem feito ultrassons nela. O veterinário Rob Jones identificou ovos e disse que houve poucos casos de partenogênese em arraias.
Então, os cientistas levantaram outra teoria para explicar a gravidez da arraia: a hibridação com o tubarão. Este cruzamento pode ter ocorrido quando o aquário moveu em julho de 2023 dois tubarões bambu-de-mancha-branca (Chiloscyllium plagiosum) ao tanque de Charlotte.
Os especialistas começaram a notar marcas de mordida na arraia, mas também viram outros peixes beliscando-a. Após removerem esses peixes, as marcas continuaram. "Então nossa lâmpada acendeu - os tubarões mordem para acasalar - um de nossos jovens machos acasalou com ela?", escreveu Smith.
Como tubarões e arraias são taxonomicamente relacionados, a hibridação é teoricamente possível. A especialista disse que um vídeo de ultrassom mais recente mostrou que a arraia estava grávida de dois, possivelmente três filhotes.
Um teste de DNA precisará ser feito após o nascimento dos bebês— exceto se houver pistas visuais de que eles são híbridos de tubarão com arraia. O parto poderá ocorrer a qualquer momento.
Em uma última atualização no Facebook, Brenda Ramer, curadora e fundadora do aquário, pediu aos usuários da rede social que não fizessem comentários desqualificativos sobre a gravidez, que deixou muitas pessoas abismadas.
"Charlotte é um peixe especial e adorável. Estamos compartilhando sua experiência com você como uma forma de aprender juntos. É o nosso presente. Por favor, não desqualifique nosso evento", declarou Ramer. "Só porque algo não aconteceu ou não foi documentado não o torna impossível. A ciência é descoberta. E além disso, nenhum de nós sabe o que aconteceu no grande oceano porque nem sempre estamos lá".