Biologia

Por Redação Galileu

Após analisar uma coleção histórica de crânios, pesquisadores europeus chegaram à conclusão de que o cérebro dos cães modernos tem dimensões maiores que o de seus antepassados — apesar de ainda ser menor que o dos lobos. Os resultados foram publicados em abril na revista Evolution.

Há cerca de 25 mil anos, ancestrais comuns de cachorros e lobos passaram a interagir com seres humanos e a coexistir com eles. A partir de sua docilização e adestramento ao longo dos séculos, esses animais foram evoluindo até chegarem às raças de cães domésticos atuais.

Nos estudos evolutivos, o processo de domesticação de uma espécie está tipicamente associado à diminuição de até 20% no tamanho de seu cérebro. Com os cachorros, isso não foi diferente. “A razão provável para isso é que as vidas das espécies domesticadas são mais simples em comparação com as de suas contrapartes selvagens. No ambiente seguro fornecido pelos humanos, não há necessidade de temer ataques de predadores ou caçar por comida”, explica László Zsolt Garamszegi, do Centro de Pesquisa Ecológica da Hungria e primeiro autor do artigo, em nota.

Dessa forma, a energia que seria gasta para sustentar o grande cérebro foi redirecionada para outros propósitos, como produzir mais descendentes. Evolutivamente, essa característica tornou-se mais importante para a longevidade da espécie enquanto animal doméstico.

Apesar disso, considerando que os cães vivem em níveis variados de complexidade social e realizam diferentes tarefas, os cientistas acreditam que as raças também requerem capacidades cerebrais distintas. Isso porque, na convivência com humanos, alguns atuam na segurança da casa, outros em pastoreio e caça ou, até, no apoio emocional.

Assim, por meio de tomografias computadorizadas do crânio de 865 indivíduos, representando 159 raças de cães, e 48 espécimes de lobos, a equipe reconstituiu o cérebro desses animais. Por meio do cálculo de volume, verificou-se que o tamanho do cérebro canino muda de acordo com a raça, bem como pela distância genética de espécies selvagens.

Projeção 3D do cérebro de um vizsla húngaro, produzido a partir da tomografia computadorizada de seu crânio — Foto: Divulgação/Kálmán Czeibert
Projeção 3D do cérebro de um vizsla húngaro, produzido a partir da tomografia computadorizada de seu crânio — Foto: Divulgação/Kálmán Czeibert

De acordo com os resultados obtidos, enquanto os lobos têm um volume cerebral médio de 131 centímetros cúbicos (cm³), associado a um peso corporal médio de 31 kg, os cães de peso semelhante apresentam um volume de cérebro correspondente a apenas três quartos disso, aproximadamente 100 cm³.

Misterioso crescimento

Mas o que realmente surpreendeu os pesquisadores foi descobrir que, quanto mais uma raça de cachorro é geneticamente distante dos lobos, maior se torna o tamanho relativo de seu cérebro. Esse fenômeno vai contra as expectativas que se tinha até então.

"Os resultados mostram que a criação de raças modernas de cães foi acompanhada por um aumento no tamanho do cérebro em comparação com as raças antigas. Não poderíamos explicar isso com base nas tarefas ou características da história de vida das raças, então podemos apenas especular a respeito”, analisa Enikő Kubinyi, da Universidade Eötvös Loránd, na Hungria, e pesquisadora colaboradora do estudo.

Ainda sem uma resposta definitiva do porquê desse crescimento, os cientistas sugerem que isso talvez seja uma influência do ambiente social mais complexo na contemporaneidade. A urbanização e a adaptação a mais regras e expectativas dos seres humanos sobre os seus pets podem ser propulsores dessa nova tendência evolutiva.

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