Uma das habitações paleolíticas mais bem preservadas do mundo, uma "cabana" construída há 16,8 mil anos foi descoberta na caverna de La Garma, na Espanha. O trabalho foi apresentado em 30 de novembro por pesquisadores no Museu Arqueológico Nacional, em Madri.
Conduziram o projeto de pesquisa Pablo Arias, professor de Pré-História da Universidade de Cantábria, e Roberto Ontañón, diretor do Museu de Pré-História e Arqueologia de Cantábria, em parceria com Rodrigo Portero, Carlos García-Noriega, entre outros pesquisadores.
A "casa" paleolítica descoberta ao longo de dois anos de investigações era um espaço oval de cerca de 5 m², delimitado por um alinhamento e blocos de pedra e estalagmites que fixavam ao solo uma estrutura de paus e peles apoiada contra uma saliência próxima na parede da caverna.
![A caverna de La Garma, na Espanha, em 2017 — Foto: World Monuments Fund](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/l3JyqHmlejVnJjV5Ei_wukAsNpo=/0x0:1200x800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/P/J/B1EKyjQw2YjPf7o3MeKA/dsc-0958-1.jpg)
Moravam na "cabana" caçadores e coletores magdalenenses, que deixaram em seu centro uma pequena fogueira, ao redor da qual foram encontrados muitos vestígios de diversas atividades cotidianas. Isso incluía a fabricação de instrumentos de pedra, chifre e osso, processamento de peças de caça, trabalho com peles etc.
Os pesquisadores encontraram 4.614 objetos, em sua maioria ossos de cervos, cavalos e bisões, mas também 600 peças de sílex, lanças, agulhas e uma espécie de arpão. Também havia conchas de moluscos marinhos.
![O maior exemplo de piso paleolítico em 2017 na caverna de La Garma — Foto: World Monuments Fund](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/pwcHDaJOIw1tF-393acFVpAHvaw=/0x0:1200x800/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/3/F/2GzTVCRwS9BIzDBo9dUg/dsc-0955-1.jpg)
Além dos restos de animais e instrumentos relacionados à subsistência, os especialistas acharam vários pingentes que os antigos habitantes usavam como enfeites e ossos decorados, incluindo uma falange de uro (um antigo bovino) perfurada, com uma representação desse animal e de um rosto humano — uma peça única no Paleolítico europeu.
Para preservar o local, os especialistas usaram várias técnicas não invasivas. Entre elas, uma gigapanorâmica dos pisos, cartografia 3D de alta resolução do campo magnético; análise molecular e genética de solos e objetos paleolíticos; análise de restos de fauna por espectrometria de massa de colágeno ósseo (ZooMS); e um estudo hiperespectral de imagens.
Os pesquisadores planejam criar uma reprodução da "casa", que será instalada em breve na exposição do Centro de Arte Rupestre criado pelo Governo de Cantábria na localidade de Puente Viesgo.
![casa de 16.800 anos atrás foi documentada em La Garma, Espanha — Foto: Universidad de Cantabria](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/UNpnrXJ0C1hMN-yQXIBhLnAZfI0=/0x0:800x801/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2023/B/U/oQUCjaS9W3TheDmZgsFA/20231130-la-garma-800.jpg)
Segundo comunicado da Universidade de Catábria, La Garma está incluído na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, onde, desde sua descoberta em 1995, um ambicioso projeto de pesquisa é desenvolvido.
Por lá, há também achados da Idade do Bronze, do período visigodo e da Idade do Ferro, além de um conjunto de arte rupestre paleolítica que é uma das sequências estratigráficas mais completas da Europa, representativa dos últimos 400 mil anos de história.