Vinte e oito anos após a descoberta dos restos mortais de uma adolescente inca sacrificada há 500 anos perto da cratera de um vulcão nos Andes, pesquisadores reconstruíram a aparência da jovem em uma escultura hiper-realista.
O feito foi divulgado na última terça-feira (24) pela Universidade Católica de Santa Maria, no Peru, cujos especialistas conduziram a reconstrução. O trabalho ocorreu em parceria com cientistas do Centro de Estudos Andinos da Universidade de Varsóvia, na Polônia.
A reconstrução escultural foi baseada em técnicas forenses modernas, tomografias do corpo, estudos de DNA, características etnológicas e na idade da falecida, apelidada de "Dama" ou "Donzela de Ampato". O nome faz referência ao Monte Ampato, vulcão no Peru onde a adolescente foi descoberta.
Os restos mortais da garota foram desenterrados em 1995 por uma equipe de arqueólogos, liderada por Johan Reinhard, que subiu no vulcão a 6.318 metros acima do nível do mar, na província de Caylloma. O corpo da adolescente estava congelado, ainda com vestimentas.
Acredita-se que a jovem foi sacrificada em homenagem à majestosa cordilheira dos Andes, considerada uma das divindades mais importantes da cultura inca. Em seu local de enterro foram descobertos 37 objetos cerâmicos decorados com figuras geométricas, que podem ter sido parte de um sistema de comunicação desenvolvido pelos incas.
Os chamados aríbalos incas são recipientes de cerâmica para líquidos, normalmente de grande tamanho. Entre as oferendas encontradas pela equipe, estava um aríbalo com apenas 8 centímetros de altura, que foi claramente feito para uso cerimonial no rito da Capacocha, que normalmente envolvia o sacrifício de crianças.
De acordo com comunicado da Universidade Católica de Santa Maria, a Capacocha envolvia oferendas de súplica ou gratidão ao Sol. Uma criança era sacrificada aos deuses no topo de uma montanha, acompanhada de uma série de outras ofertas, como cerâmica, metais preciosos, têxteis e conchas marinhas de várias partes do Império Inca.
Apesar do ritual parecer cruel no nosso ponto de vista atual, os incas acreditavam que as crianças oferecidas às divindades não morriam, mas se reuniam com seus ancestrais nas montanhas mais altas.
Em 2018, a equipe internacional de arqueólogos e cientistas começou a documentar os corpos e objetos encontrados no Ampato e nos vulcões Misti e Pichupichu, em Arequipa, onde os incas realizaram esses rituais de sacrifício infantil.
Para preservação, o corpo da adolescente sacrificada foi mantido em uma câmara especial a -20ºC no Museu Santuários Andinos da Universidade Católica de Santa Maria.
Os pesquisadores Dominica Sieczkowsra e Bartlomiej Chielewski conduziram um estudo 3D do corpo da jovem e dos artefatos funerários. Eles criaram uma imagem digital da menina, que permitiu ao arqueólogo e artista plástico sueco Oscar Nilson aplicar uma técnica para reconstituir o rosto da garota.
Com base nas medidas do crânio e marcadores de profundidade do tecido, foi determinado que uma característica importante do rosto da adolescente são as maçãs elevadas, típicas das proporções faciais femininas das regiões de alta montanha. O estudo 3D do corpo revelou ainda que ela morreu quando tinha entre 13 e 15 anos de idade.
A reconstrução da "Donzela de Ampato" e as informações fornecidas pelos cientistas poloneses passarão a fazer parte de uma exposição permanente do Museu Santuários Andinos da Universidade Católica de Santa Maria.