Arqueologia

Por Redação Galileu

O corpo de uma criança de cerca de 9 mil anos atrás foi desenterrado na Jordânia com milhares de contas que pertenciam a um único colar. A joia traz informações sobre a complexidade social da cultura neolítica, segundo sugere um estudo publicado nesta quarta-feira (2) no periódico PLOS ONE.

Com base no formato da mandíbula da criança, ela provavelmente era uma menina de aproximadamente oito anos de idade. A garota foi enterrada em posição fetal e estava em péssimo estado de conservação.

“O braço direito estava faltando e partes do crânio, mandíbula, pelve e pés foram severamente danificados por fatores pós-deposição, como o peso e as camadas que cobrem o corpo”, escreveram os autores do estudo, liderado pela pesquisadora Hala Alarashi, do Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha e da Universidade Côte d'Azur, na França.

Imagens mostram restos mortais da criança com algumas contas espalhadas fixadas com alfinetes — Foto: Hala Alarashi/Plos One
Imagens mostram restos mortais da criança com algumas contas espalhadas fixadas com alfinetes — Foto: Hala Alarashi/Plos One

Por outro lado, os especialistas apontam que os restos esqueléticos preservados estavam bem articulados. “A maioria deles estava manchada de vermelho na superfície externa, sugerindo que a criança tinha roupas ou a pele estava manchada de vermelho”, descreve o estudo.

Os pesquisadores analisaram os materiais que adornavam o corpo da menina, enterrada em uma sepultura na vila neolítica de Ba'ja, datada entre 7.400 e 6.800 a.C. Havia mais de 2,5 mil pedras e conchas coloridas, duas contas de âmbar excepcionais, um grande pingente de pedra e um anel de madrepérola delicadamente gravado.

Segundo os autores, os itens pertenciam a um colar composto de várias fileiras que se desfez depois do enterro. Eles então criaram uma reconstrução física do artefato original, que agora está em exibição no Museu de Petra, no sul da Jordânia.

Colar encontrado em túmulo de criança na antiga Jordânia — Foto: Hala Alarashi et.al
Colar encontrado em túmulo de criança na antiga Jordânia — Foto: Hala Alarashi et.al

“A reconstrução do colar que propomos é baseada em documentação de campo obtida durante a escavação, análise aprofundada de seus elementos constituintes e uma série de estimativas e argumentos lógicos”, dizem os especialistas.

A pesquisa revelou ainda um nível inesperado de conectividade entre Ba'ja e o resto do mundo, e seu envolvimento nas redes de intercâmbio e comércio que circularam por todo o Levante no período.

Contudo, os pesquisadores acreditam que o colar não foi criado para fins comerciais ou de troca, mas sim como “parte do enterro da criança, servindo como um testemunho significativo para as práticas culturais da época”.

A equipe acredita que o colar dotava a garota de oito anos como uma pessoa altamente distinta em sua comunidade. “A sua associação a uma criança reafirma o lugar significativo das crianças nas primeiras comunidades agrícolas do Levante e questiona o seu papel indireto no estímulo à produção de missangas, no fomento das tecnologias e dos gostos estéticos, sobretudo porque parecem ser os principais sujeitos interessados ​​na ornamentação corporal em tais contextos”, escrevem os autores.

O estudo do colar também revela quão complexas foram as interações entre os atores sociais da comunidade de Ba'ja, incluindo fabricantes de contas, viajantes, familiares ou autoridades tribais por trás das demandas de criações artísticas. “Nisso, o colar também reflete uma narrativa complexa da dinâmica social dentro e fora de Ba'ja que certamente merece mais exploração”, conclui a equipe.

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