Após participar de uma conferência em novembro de 2022, na Bélgica, o historiador Bernard Wilkin foi contatado por um colecionador de meia-idade que disse ter guardado no sótão de casa os restos de soldados mortos na Batalha de Waterloo, na qual o exército de Napoleão Bonaparte foi derrotado em 1815.
Wilkin, que trabalha para os arquivos históricos do governo belga, relatou ao site NBC News que o homem afirmou ter “alguns prussianos no sótão”. Em seguida, o senhor, que era proprietário de um pequeno museu sobre a batalha napoleônica, mostrou fotos em seu celular e informou que alguém havia lhe dado os ossos para exibi-los, mas que ele se recusou fazer isso "por razões éticas".
Alguns dias depois da conferência, Wilkin visitou a casa do colecionador na aldeia de Plancenoit, onde o senhor lhe mostrou os ossos. O historiador relata que o homem colecionava itens de Waterloo e que estava na posse dos restos mortais desde a década de 1980.
Os ossos foram dados a ele por um amigo detector de metais que os descobriu perto de um antigo campo de batalha local. As ossadas estavam em uma área onde as forças francesas teriam lutado contra os prussianos.
Entre os restos havia um pé direito com quase todos os dedos. "Ver um pé tão bem preservado é muito raro, porque geralmente os pequenos ossos das extremidades desaparecem no solo", observou Mathilde Daumas, antropóloga da Universidade Livre de Bruxelas, que faz parte do trabalho de pesquisa, à agência France-Presse (AFP).
Origem misteriosa
Apesar do colecionador que guardou os ossos dizer que se trata de soldados prussianos, os especialistas estão cautelosos quanto a isso. No vilarejo onde estavam os restos, tropas dos lados prussiano e napoleônico lutaram ferozmente, o que abre também a possibilidade de que as ossadas sejam de militares franceses, segundo Wilkin.
Outra pista confusa foram pedaços de botas e fivelas de metal, que seriam uniformes usados pelo lado germânico contra os franceses. Contudo, o historiador afirma que os acessórios não são indicadores confiáveis da nacionalidade dos esqueletos. Segundo ele, é conhecido que os soldados tiravam os equipamentos dos inimigos mortos para se protegerem utilizando os mesmos.
Apesar do estudo ainda não ter sido finalizado, Wilkin conta que Philippe Boxho, um patologista forense que trabalha nos restos mortais, descobriu um trauma contundente em torno de uma órbita ocular de um soldado. “Há claramente uma espada que atravessou o olho”, disse o historiador à NBC News. “A frente provavelmente foi atingida pela coronha de um rifle com muita violência".
Apesar da nacionalidade desse soldado e dos demais ainda ser incerta, vestígios do elemento estrôncio nos dentes dos mortos poderão apontar suas origens, conforme Boxho, que acredita que nos próximos dois meses análises genéticas possam trazer respostas. "Nosso maior inimigo é a umidade, que faz tudo se desintegrar", explicou.
De acordo com o site Historyhit, os restos mortais de mais seis esqueletos, possivelmente de soldados britânicos mortos entre Hougoumont Farm e Lion Mound Memorial, foram recuperados de outra residência.
Uma bala de canhão de ferro também foi encontrada com os restos, que serão submetidos a um exame mais aprofundado pela especialista Caroline Laforest no Instituto Real Belga de Ciências Naturais.