• Redação Galileu
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25 megacidades produzem 52% das emissões globais de gases estufa (Foto: Kelly Lacy/Pexels)

25 megacidades produzem 52% das emissões globais de gases estufa (Foto: Kelly Lacy/Pexels)

Xangai, Tóquio e Moscou estão entre as 25 megacidades que, juntas, foram responsáveis por 52% do total de gases de efeito estufa (GEE) emitidos entre 2005 e 2016. A conclusão é de um estudo publicado no periódico científico Frontiers in Sustainable Cities nesta segunda-feira (12), que avaliou dados de 167 cidades de 53 países, incluindo o Brasil.

As cidades foram incluídas na investigação com base em dados de representatividade de área urbana e distribuição regional, o que incluiu metrópoles e zonas urbanas de grande extensão – indo de Durban, na África do Sul, a Milão, na Itália, passando também por cidades brasileiras como Rio de Janeiro e Curitiba.

Durante o período avaliado, cidades com altas emissões totais de gases de efeito estufa foram mapeadas tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, sobretudo as asiáticas – como Handan, Xangai e Suzhou –, e de localidades na Europa, como Moscou, na Rússia, e Istambul, na Turquia.

Mas o estudo pondera que as grandes quantidades de emissões provenientes de países ricos (como Japão, Estados Unidos e Alemanha) podem “levantar questões de equidade” relevantes. “As consequências das mudanças climáticas, como condições meteorológicas extremas, grandes incêndios e perda de biodiversidade são suportadas por todo o mundo, mas as regiões mais pobres são possivelmente mais vulneráveis ​​a essas consequências”, escrevem os pesquisadores no estudo.

Na figura A, emissões totais de gases de efeito estufa e, em B, emissões per capita de 167 cidades. São apresentados os dados mais recentes das cidades, que podem ser de anos diferentes (2005-2016), dependendo da disponibilidade de dados (Foto: Frontiers in Sustainable Cities )

Na figura A, emissões totais de gases de efeito estufa e, em B, emissões per capita de 167 cidades. São apresentados os dados mais recentes das cidades, que podem ser de anos diferentes (2005-2016), dependendo da disponibilidade de dados (Foto: Frontiers in Sustainable Cities )

Zonas urbanas europeias, australianas e norte-americanas também apresentaram emissões per capita mais altas do que a maioria das áreas em desenvolvimento e, embora a China ainda seja considerada uma nação em desenvolvimento, a investigação revela que várias cidades do país asiático (como Yinchuan, Urumqi e Dalian) tiveram emissões de GEE per capita próximas às dos países desenvolvidos.

Energia estacionária e transporte rodoviário

Entre as principais fontes de emissões destacadas pelo estudo estão a energia estacionária e o modal de transporte rodoviário. A primeira, que inclui a queima de combustível e o uso de eletricidade em edifícios residenciais, comerciais e industriais, contribuiu com 60% a 80% das emissões totais nas cidades norte-americanas e europeias. Em cerca de um terço das 167 cidades, ainda, mais de 30% das emissões totais de gases de efeito estufa foram provenientes do transporte rodoviário. Por outro lado, menos de 15% das emissões totais vieram de ferrovias, hidrovias e aviação.

“A divisão das emissões por setor pode nos informar quais ações devem ser priorizadas para reduzir as emissões de edifícios, transportes, processos industriais e outras fontes”, avalia, em comunicado, Shaoqing Chen, pesquisador da Universidade Sun Yat-sen, na China e coautor do estudo.

Rio de Janeiro e Curitiba na lista dos piores

Os pesquisadores também conseguiram monitorar a evolução das emissões de gases de efeito estufa em 42 cidades que tinham dados rastreáveis ao longo do tempo. Trinta delas, situadas sobretudo nas Américas e na Europa, reduziram suas emissões totais entre 2005 e 2016, a exemplo de Paris, na França, e Sydney, na Austrália. Entre as que também tiveram redução per capita, destacam-se Seattle, nos EUA, Oslo, capital da Noruega e Bogotá, na Colômbia.

Por outro lado, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram em várias cidades durante o período avaliado, incluindo algumas no Brasil: Veneza, Rio de Janeiro, Curitiba e Joanesburgo foram as quatro cidades que tiveram os maiores aumentos anuais nas emissões per capita. As representantes brasileiras também estiveram entre as que apresentaram as maiores emissões anuais totais. A maioria delas pertence a países em desenvolvimento, cujas indústrias dependem principalmente de baixa tecnologia e alto consumo de energia, avalia o estudo.

“Por exemplo, como a segunda maior base industrial do Brasil, o Rio de Janeiro está passando por um rápido desenvolvimento da indústria química e da mineração. Algumas dessas indústrias de alto carbono são transferidas de cidades em países desenvolvidos”, avalia o documento. “Essas cidades têm um grande potencial de redução de emissões ao fazer planos de mitigação climática mais agressivos e ancorados em metas de desenvolvimento sustentável local”, acrescentam os autores.

"Mais ambiciosas e rastreáveis"

De acordo com o estudo, 13 das 167 cidades analisadas estabeleceram metas rastreáveis para a redução das emissões de gases de efeito estufa, sendo que 68 incluíam vários tipos de gases. Outras 40 estipularam metas de neutralidade de carbono – em alguns casos, foram mapeados os dois tipos de cenário.

Para limitar o aquecimento global a 1,5 ºC neste século – valor estipulado pelo Acordo de Paris –, os pesquisadores consideram que “as cidades precisam sair de um caminho de industrialização dependente de recursos para um caminho de desenvolvimento sustentável impulsionado pela inovação”.

O estudo sugere que as cidades devem definir metas de mitigação “mais ambiciosas e facilmente rastreáveis. “Em um determinado estágio, a intensidade de carbono é um indicador útil para a descarbonização da economia e fornece maior flexibilidade para cidades de rápido crescimento econômico com aumento de emissões. A longo prazo, mudar as metas de mitigação de intensidade para metas de mitigação absolutas é essencial para alcançar a neutralidade global de carbono até 2050”, acrescenta Chen, em nota.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.