• Redação Galileu
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Dente molar superior do morcego Altaynycteris aurora (Foto: Li Qiang)

Dente molar superior do morcego Altaynycteris aurora (Foto: Li Qiang)

A origem dos morcegos ainda é um mistério para a paleontologia. Os fósseis mais antigos do animal foram encontrados na Europa e na América do Norte, com origem que remonta ao início do Eoceno, há cerca de 55 milhões de anos. Mas um estudo publicado no periódico científico Biology Letters no último dia 30 de junho descreve os vestígios de um par de dentes “tão velho ou mais antigo” do que os restos de seus parentes norte-americanos e europeus. Desta vez, um fóssil de morcego foi localizado na Ásia, no norte de Xinjiang, na China.

A descoberta, segundo os pesquisadores, adiciona a Ásia à lista dos possíveis berços desses mamíferos, de onde eles teriam emergido e, mais tarde, após desenvolver a capacidade de vôo, se distribuído mundo afora. O par de dentes foi localizado na Bacia Jungga, uma bacia sedimentar remota no noroeste da China.

Os fósseis pertencem a dois espécimes de morcego, que foram batizados pelos cientistas de Altaynycteris aurora. O primeiro nome se refere à Prefeitura de Altay, no norte de Xinjiang, e o segundo, à uma palavra que, em latim, significa “amanhecer”, uma alusão à data do fóssil: o início da era Eoceno – cerca de 55 milhões de anos atrás.

Os antigos dentes de morcego foram descobertos por meio de um árduo trabalho de campo na Bacia de Junggar, na China (Foto: Matthew Jones)

Os antigos dentes de morcego foram descobertos por meio de um árduo trabalho de campo na Bacia de Junggar, na China (Foto: Matthew Jones)

“Agora, os morcegos também são conhecidos desde o primeiro Eoceno da Ásia, tornando-os tão velhos ou mais antigos do que suas primeiras ocorrências na Europa e América do Norte”, escreveram os pesquisadores no estudo, que contou com a participação de paleontólogos da Universidade do Kansas (KU), nos Estados Unidos, e da Academia Chinesa de Ciências.

A equipe conseguiu datar os dentes após uma meticulosa análise morfológica dessas estruturas, que têm 1,13 milímetros de comprimento e 1,85 mm de largura. Uma vez que datam da primeira fase do Eoceno, os fósseis foram considerados os registros mais antigos de morcegos já localizados em qualquer lugar da Terra. “A ausência de traços molares superiores claramente derivados (por exemplo, cíngulo lingual, garra, parastilo em forma de gancho) sugere que Altaynycteris está entre os morcegos mais primitivos conhecidos”, acrescenta o documento.

Alguns detalhes sobre o Altaynycteris, no entanto, ainda permanecem nebulosos. É difícil, por exemplo, concluir, a partir de fragmentos de dentes, se o animal já podia voar ou fazer ecolocalização – sons emitidos pelos morcegos que fornecem uma quantidade imensa de informações sobre os seus arredores, o que é muito útil para um mamífero noturno.

“Esses dentes parecem intermediários, entre o que esperaríamos da aparência de um ancestral do morcego – e, de fato, a aparência de muitos mamíferos insetívoros do início do Cenozóico – e a aparência do verdadeiro morcego”, avalia Matthew Jones, principal autor do estudo. “Então, eles têm alguns recursos que são característicos dos morcegos que podemos apontar e dizer: ‘Estes são morcegos’, mas eles têm alguns recursos que podemos chamar de ‘primitivos’, pela simplicidade”, acrescenta, em comunicado, o pesquisador do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da KU.

Apesar das incógnitas, que deverão ser esclarecidas a partir de estudos adicionais, a descoberta ajuda os cientistas a entenderem melhor a evolução e distribuição geográfica dos morcegos. "[Na escala de descoberta dos fósseis,] literalmente você tem um mamífero normal e, então, você tem morcegos – e sempre que você tem um registro fóssil que representa um vácuo gigante, precisamos de um trabalho que possa preencher parcialmente isso. Este artigo é pelo menos um passo nesse caminho”, analisa, em nota, Christopher Beard, professor de Ecologia e Biologia Evolutiva no KU.