• Redação Galileu
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Mais da metade das brasileiras se considera feminista, revela pesquisa. Acima: Quarta Marcha das Mulheres Negras em Copacabana, no Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Mais da metade das brasileiras se considera feminista, revela pesquisa. Acima: Quarta Marcha das Mulheres Negras em Copacabana, no Rio de Janeiro (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Um estudo realizado pelo Instituto Ipsos com adultos de 30 países revela que 51% das brasileiras se consideram feministas. Elas estão acima da média global (47%) de mulheres que concordaram com a frase “eu me defino como feminista”.

O levantamento foi divulgado para discutir questões de gênero no Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta terça-feira (8). Segundo a pesquisa, a nação com mais mulheres feministas é a Romênia (80%), seguida por Índia, Malásia e África do Sul (todas com 64% de respostas afirmativas). Já os menores índices estão na Rússia (17%), no Japão (21%) e na Coreia do Sul (24%).

O estudo entrevistou mais de 20,5 mil pessoas online, entre os dias 21 de janeiro e 4 de fevereiro de 2022, em países da Europa, Ásia, América, África e Oceania. Entre os voluntários estavam mais de mil brasileiros com idades entre 16 e 74 anos. A margem de erro da pesquisa é de 3,5 pontos percentuais.

Um dos dados que mais chama atenção no estudo em relação ao país é que 23% dos brasileiros entrevistados concordaram que o feminismo faz “mais mal do que bem” à sociedade.

Analisando os dados globais, 26% acreditam que o feminismo traz mais prejuízos do que benefícios. A Rússia é o país onde mais pessoas concordam com essa ideia: 42% dos russos veem com maus olhos as questões feministas. Já a Holanda é onde menos indivíduos têm esse pensamento: apenas 12% dos respondentes holandeses concordaram.

Mesmo que não estejamos no pior cenário de todos, a posição brasileira é alarmante, de acordo com Priscilla Branco, gerente de Public Affairs da Ipsos no Brasil. “Ainda que seja uma minoria, ter cerca de um quarto da população acreditando que o feminismo traz mais prejuízos que benefícios é preocupante, ainda mais em um país como o Brasil, que registra tristemente números horríveis em relação a violência contra mulheres”, avalia Branco, em comunicado.

Descrença na desigualdade de gênero

Marcado por uma pluridade de pautas e vertentes, o movimento feminista é de extrema importância. No Brasil, as mulheres obtiveram direito ao voto em 1932, conquista que aconteceu graças à organização de movimentos feministas no início do século 20. E desde então, as mulheres tiveram acesso a diversos direitos e lugares graças a essas iniciativas.

Entrevistados do Brasil pelo Ipsos estiveram entre os que menos acreditam que o feminismo provocou perdas políticas, econômicas e sociais para os homens (Foto: Creative Commons )

Manifestação do Bloco das Mulheres na Luta Contra a Violência do Estado no Dia Internacional da Mulher de 2013, Belo Horizonte (Foto: Creative Commons )

Ainda assim, 12% dos brasileiros não reconhecem que a desigualdade de gênero existe. A descrença nessa questão é maior na Arábia Saudita (35%) e na Malásia (28%); no Japão e na Bélgica os índices são os menores, 5% e 11%, respectivamente. A média global é de 18%.

Apesar disso, os entrevistados do Brasil estão entre os que menos acreditam que o feminismo provocou perdas políticas, econômicas e sociais para os homens — só 13% acham isso, o segundo menor índice entre as 30 nações pesquisadas, empatando com França e atrás somente da Itália (12%). Essa porcentagem é maior entre os poloneses (38%) e chineses (28%).

Outra questão é que, para 75% dos participantes do Brasil, as empresas não tratam ambos os sexos com igualdade. Se apenas consideradas as respostas das mulheres, o índice sobe para quase 84%. Depois do nosso país, os que mais discordam sobre a igualdade de homens e mulheres no trabalho é o Japão e o Chile (ambos com 64%), seguidos pela França (58%).

Masculidade em debate

Segundo a pesquisa, 27% dos brasileiros acreditam que a masculinidade tradicional está ameaçada hoje em dia. A ideia de que os valores masculinos estão sendo enfraquecidos é maior entre os russos (55%) e os húngaros (42%) e menos presente entre italianos (16%), turcos (19%) e holandeses (19%).

O estudo mostra que o feminismo está sendo bastante discutido nos últimos tempos, o que é positivo. “Mas muitas dessas discussões acabam caindo num contexto de polarização”, pondera Priscilla Branco. “O termo em si ainda é controverso para muitas pessoas, mesmo para algumas que se dizem progressistas. Nós avançamos na luta pela igualdade, mas ainda há um caminho a percorrer”.