• Maria Clara Vaiano*
Atualizado em
imagem de uma carteira manchada de sangue (Foto: Always)

imagem de uma carteira manchada de sangue (Foto: Always)

Um levantamento feio pelo Instituto de Pesquisa Locomotiva, em conjunto com a marca de absorvente Always, aponta que 52% das mulheres no Brasil já sofreram com pobreza menstrual e 35% afirmam que a compra de itens de higiene pessoal pesa na renda.

A pobreza menstrual, ou precariedade menstrual, é o termo usado quando pessoas que menstruam não têm acesso a produtos e itens básicos de higiene, como água e absorventes limpos, para conter seus fluxos todos os meses. 

A pesquisa foi realizada em duas etapas: a primeira foi quantitativa, com 1016 mulheres de 16 a 50 anos de idade de todas as regiões do país, e a segunda, qualitativa, envolveu grupos de discussão formados por 24 mulheres de 16 a 39 anos das classes C e D. O período de análise de dados durou entre 25 de janeiro a 2 de fevereiro de 2022.

No âmbito da educação, a análise aponta que cerca de 2,9 milhões de estudantes do ensino fundamental, médio ou superior já faltaram pelo menos uma vez por não terem acesso a itens de higiene menstrual. Dessas, aproximadamente 2,4 milhões já se ausentaram mais de uma vez de suas instituições de ensino por essa razão. Por ano, isso representa uma média de 14 milhões de faltas por mulheres estudantes.

É comum que essas pessoas recorram a retalhos de pano, roupas, miolo de pão e jornais para conter o fluxo menstrual. O item mais usado, porém, é o papel higiênico: 83% o utilizam para conter o sangramento. “Isso acontece todos os meses, isso acontece com as mulheres, em especial, com as mais pobres que sofrem com oportunidades que são tolhidas por sua condição de renda e escolaridade”, comentou Renato Meirelles, presidente do Instituto de Pesquisa Locomotiva e responsável pela pesquisa, durante evento promovido virtualmente nesta terça-feira (15).

Para a fase de pesquisa, Startup quer que mulheres enviem absorventes usados  (Foto: Marco Verch/ Flickr)

 (Foto: Marco Verch/ Flickr)

Para Edicléia Pereira Dias, professora da rede municial de Camaçari, na Bahia, esses dados se comprovam na prática. Atuando nas salas de aula, ela percebeu uma grande evasão de estudantes em certos períodos do mês. Ao cruzar informações para identificar que grupo mais faltava, ela se surpreendeu ao perceber que eram principalmente as meninas.

Não demorou muito para perceber que o problema das ausências estava interligado com a falta de disposição de produtos de higiene menstrual. Com intuito de evitar que suas alunas se prejudicassem ainda mais, Dias criou o Banco de Absorventes, que entrega na casa das estudantes pacotes contendo kits de higiene menstrual.

“A gente pensou em entregar esse pacotes em forma de presentes para não ficar tão demarcado”, explica a professora. Além dos absorventes, o kit contém creme de cabelo, lápis de olho, esmalte e lixa de unha, sabonetes e outros itens de higiene básica.

O levantamento analisou também como a pobreza menstrual afeta o mercado profissional. De acordo com a pesquisa, cerca de 5,5 milhões de mulheres já faltaram ao trabalho por não ter absorvente ou meios de se higienizar. O impacto disso na economia do país é estimado em R$ 2,4 bilhões. As mulheres mais afetadas pertencem às classes econômicas D e E.

Outro achado curioso é que as mulheres que mais doam produtos de higiene menstrual ou dinheiro para a compra de itens de pessoas necessitadas são mulheres também de baixa renda. “A pobreza menstrual é um problema do nosso país, da economia e do progresso educacional”, conclui Meirelles.

*Com supervisão e edição de Luiza Monteiro