• Redação Galileu
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Hipocondria na infância e adolescência pode se tornar crônica se não tratada (Foto: Michał Parzuchowski/Unsplash)

Hipocondria na infância e adolescência pode se tornar crônica se não tratada (Foto: Michał Parzuchowski/Unsplash)

Com apenas 11 anos de idade, Ida já tem medo de morrer. Desde que a sua avó veio a óbito há seis meses por causa de um câncer, a menina fica ansiosa ao pensar que também pode ser vítima de um tumor maligno. Esse sentimento é acionado quando ela passa em frente a um hospital ou quando vê pessoas que parecem doentes e, por isso, Ida precisa que os pais lhe digam frequentemente que ela está bem. E, mesmo após comparecer a consultas médicas, a garota continua ansiosa.

A história de Ida, afirmam pesquisadores, não é incomum. De acordo com um estudo publicado na revista Journal of Child Psychology, sintomas de ansiedade relacionados à saúde são frequentes em crianças e adolescentes — e esse é um problema que merece atenção. “Caso a ansiedade se torne excessiva e persistente, ela pode se desenvolver para uma hipocondria de fato", afirma, em nota, a médica e pesquisadora Charlotte Rask.

Realizada pela Universidade Aarhus e pela Universidade de Copenhague, ambas na Dinamarca, a pesquisa analisou 1.278 pessoas em duas fases da vida: 11 e 16 anos. Apesar da maioria das crianças ter apresentado um declínio nos sintomas de hipocondria durante esse período, o estudo identificou um padrão preocupante entre alguns participantes.

Em 1,3% dos casos, os adolescentes apresentaram problemas persistentes e significativos de ansiedade. Além disso, na comparação com a maioria dos indivíduos, esse grupo utilizou de duas a três vezes mais recursos financeiros em clínicos gerais e médicos especializados.

“Essa descoberta pode ser preocupante, uma vez que esse tipo de comportamento realmente pode perpetuar a hipocondria na medida em que apenas alivia brevemente as inquietações, mas não resolve os problemas de ansiedade”, explica o médico Martin Rimvall, principal autor do artigo.

Diante disso, os pesquisadores defendem que a atuação da família é bastante importante. “O papel dos pais no caso de crianças e adolescentes é especial, seja para ajudar a interromper as consultas médicas excessivas, seja para apoiá-los”, diz Charlotte Rask. 

A investigação também revelou que crianças de 11 anos com alguma doença física têm maior risco de desenvolver hipocondria durante a adolescência. "Uma maior conscientização dos profissionais de saúde sobre as consequências psicológicas das doenças físicas em crianças e jovens pode, portanto, nos fornecer um importante potencial para a prevenção”, observa Rask.

Antes da pandemia de Covid-19, os especialistas já apontavam a hipocondria como um problema entre crianças e adolescentes. “Agora, existem ainda mais razões para focar na saúde mental dos jovens e, em particular, na hipocondria”, defende Rimvall. “Há uma grande necessidade de desenvolver mais tratamentos psicológicos especializados, que já existem para adultos com hipocondria”, complementa Rask.