• Redação Galileu
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Cientistas criaram em laboratório modelo de embrião de 14 dias (Foto: Mijo Simunovic/Universidade Rockefeller)

Cientistas criaram em laboratório modelo de embrião de 14 dias (Foto: Mijo Simunovic/Universidade Rockefeller)

Não é novidade que os embriões humanos passam por grandes transformações em pouco tempo, mas o desenvolvimento exato das células, em especial no início da gestação, ainda permanecia um grande mistério.

Mas uma pesquisa recente, publicada na revista Nature Cell Biology, pode explicar melhor a bioquímica que envolve a formação do corpo humano e o início da gravidez. Usando células-tronco, um time da Universidade Rockefeller criou em laboratório o modelo de um embrião de dez dias, e com ele foi possível simular o desenvolvimento dos tecidos do corpo.

Criar embriões a partir de células-tronco não é exatamente uma novidade, e isso já vinha sendo usado em pesquisas recentes. Mas é uma técnica limitada. Não basta colocar células-tronco lado a lado para que tomem a forma de um embrião. Assim, o time de Rockefeller decidiu mesclar técnicas de bioengenharia, física e biologia do desenvolvimento para criar o modelo em 3D, que simula não apenas as características genéticas, mas também a forma e o tamanho de um embrião de 14 dias. Esse é um momento emblemático no desenvolvimento embrionário, quando acontece a gastrulação, um processo durante o qual as células se movimentam de modo bastante coordenado para arranjar as estruturas do corpo.

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E, claro, não adiantaria ter um modelo idêntico se ele não conseguisse agir do mesmo modo que um embrião real. Para se certificar disso, os cientistas testaram um processo bastante fundamental para o desenvolvimento animal: a quebra de simetria. É de fato o momento em que o embrião deixa de ser uma esfera quase perfeita e começa a ganhar outras formas, modelar-se à estrutura do corpo humano. E isso acontece mais ou menos duas semanas depois do início da gestação.

“A quebra de simetria orienta quase tudo o que acontece durante o desenvolvimento embrionário”, disse, em comunicado, Mijo Simunovic, que trabalhou no estudo. “Nossa cabeça não é igual aos nossos pés, e isso acontece porque, em dado momento, o embrião se divide em duas partes, anterior e posterior.”

Durante a pesquisa, os cientistas descobriram que um dos elementos químicos liberados pela placenta, o BMP4, é responsável estimular a quebra de simetria.

São descobertas que podem ter grande impacto científico, em especial no estudo da química de alguns processos de desenvolvimento. Também é um passo para entender melhor complicações na gravidez, como a falta de nidação — quando o embrião é fixado na parede do útero. “Entre 50% e 75% dos embriões não se fixam, e isso é um grande obstáculo para a gravidez”, afirmou Simunovic. “Ainda não sabemos por que isso acontece, mas esse modelo pode nos ajudar a descobrir.”

A técnica poderia ir mais longe, como auxiliar no estudo de doenças congênitas, complementou Ali H. Brivanlou, outro pesquisador. “Esses modelos [de embrião] podem finalmente expandir o conhecimento sobre doenças das quais ainda não sabemos a origem.”

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