• Redação Galileu
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Imunomarcação contra a proteína spike, do Sars-CoV-2, em testículos humanos; em verde, células germinativas infectadas pelo vírus dentro dos túbulos seminíferos  (Foto: Guilherme Mattos Jardim Costa | UFMG)

Imunomarcação contra a proteína spike, do Sars-CoV-2, em testículos humanos; em verde, células germinativas infectadas pelo vírus dentro dos túbulos seminíferos (Foto: Guilherme Mattos Jardim Costa | UFMG)

Após analisaram o sêmen de 11 homens que morreram de Covid-19, pesquisadores brasileiros notaram que o Sars-CoV-2 consegue permanecer nos testículos mesmo muito tempo após a infecção. Eles compartilharam seus resultados, ainda não revisados por pares, em fevereiro na plataforma medRxivum.

O estudo é coordenado pelos professores Guilherme Costa e Samyra Lacerda, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e pelo urologista Marcelo Horta Furtado. Atuaram na pesquisa também especialistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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Analisando outros estudos, os cientistas já haviam visto evidências de que o coronavírus altera o padrão do esperma por até três meses após a infecção. Essas pesquisas, ainda em andamento, incluem a análise do sêmen de pacientes já recuperados da Covid-19.

O novo estudo, por sua vez, considera amostras do esperma de homens de diferentes idades que morreram pela doença e que não estavam vacinados quando contraíram o vírus. Os estudiosos usaram várias técnicas na pesquisa, incluindo um sensor à base de minúsculos bastões de ouro de 40 nanômetros para identificar o vírus.

“A superfície dos bastõezinhos de ouro é recoberta com anticorpos contra a Covid-19. Cada vez que algo se liga a eles, o sensor emite um sinal, indicando a presença do vírus no tecido estudado”, explica em comunicado Flávio Guimarães da Fonseca, professor do Departamento de Microbiologia do ICB-UFMG, onde o sensor foi desenvolvido.

A equipe notou que o agente infeccioso se replica comprometendo a função reprodutiva. O vírus usa as células imunes como possível rota para infectar os testículos dos pacientes em estado grave. “O Sars-CoV-2 tem preferência pelas células que produzem os espermatozoides e promove inflamação dos tecidos, provocando hemorragia e fibroses como as que acontecem no pulmão”, diz Guilherme Costa, professor da UFMG e um dos coordenadores da pesquisa.

Segundo Costa, isso gerou modificações celulares e moleculares nas glândulas sexuais, como a perda das células fabricantes de espermatozoides e a inibição das produtoras de testosterona. Os níveis desse hormônio caíram em cerca de 30 vezes, de acordo com o docente.

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Desse modo, o microambiente do testículo se torna um “santuário viral” para o Sars-CoV-2, ainda mais porque o órgão já tenta naturalmente evitar que as células de defesa ataquem o que é produzido nele. “O testículo é um ambiente em que o vírus é pouco reconhecido pelo sistema imune”, resume Costa.

Os pesquisadores acreditam que mais estudos são necessários para entender as consequências dessa infecção na fertilidade masculina. “Se comprovado que o testículo é um lugar que serve para o vírus ficar viável por mais tempo e se replicar, como acontece com os vírus da caxumba, da aids, do zika e da hepatite, os dados vão fornecer bases para o desenvolvimento de biotecnologias antivirais”, avalia o professor.