• Redação Galileu
Atualizado em
A amígdala (em vermelho) cresce muito rapidamente em bebês (6-12 meses) que mais tarde desenvolvem autismo quando crianças (Foto: CIDD/ Universidade da Carolina do Norte )

A amígdala (em vermelho) cresce muito rapidamente em bebês (6-12 meses) que mais tarde desenvolvem autismo quando crianças (Foto: CIDD/ Universidade da Carolina do Norte )

A ciência já sabe que a amígdala, uma pequena estrutura cerebral, é particularmente grande em crianças com autismo. Essa parte do cérebro tem um papel importante em nos permitir interpretar o significado de certos estímulos, como reconhecer emoções em rostos e imagens que nos informam sobre perigos potenciais.

Agora, pela primeira vez, pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill (UCN Chapel Hill), nos Estados Unidos, demonstraram, em estudo publicado nesta sexta-feira (25) no American Journal of Psychiatry, que a amígdala cresce rapidamente na primeira infância. O crescimento anormal começa entre os primeiros 6 e 12 meses de vida, antes da idade em que os comportamentos característicos do autismo se tornam mais evidentes, permitindo o diagnóstico precoce.

O trabalho observou que o aumento da amígdala em bebês que mais tarde foram diagnosticados como autistas diferiu substancialmente dos padrões de crescimento do cérebro em crianças com outros transtornos do neurodesenvolvimento, como a síndrome do X frágil. Nessas, não foram observadas diferenças na evolução da estrutura cerebral.

Segundo o estudo, os pequenos que desenvolvem autismo não mostram diferença no tamanho da amígdala aos 6 meses de idade. No entanto, ela começa a crescer mais rapidamente a partir desse momento até o primeiro aniversário. Esse aumento continua até os 2 anos, quando geralmente já é possível identificar comportamentos característicos de transtornos do espectro autista.

Bebê dormindo antes da ressonância magnética  (Foto: CIDD/ Universidade da Carolina do Norte )

Bebê dormindo antes da ressonância magnética (Foto: CIDD/ Universidade da Carolina do Norte )

“Também descobrimos que a taxa de crescimento excessivo da amígdala no primeiro ano está ligada aos déficits sociais da criança aos dois anos de idade”, diz o autor Mark Shen, professor assistente de psiquiatria e neurociência na UCN Chapel Hill, em comunicado. “Quanto mais rápido a amígdala crescia na infância, mais dificuldades sociais a criança apresentava quando diagnosticada com autismo um ano depois.”

No total, participaram da investigação 408 bebês, sendo que 58 tinham maior probabilidade de serem diagnosticados como autistas por já terem um irmão mais velho com a condição. Outras 212 crianças também se mostravam propensas, mas não desenvolveram o transtorno. Já 109 voluntários apresentaram um desenvolvimento considerado típico e 29 eram portadores da síndrome do X frágil. Mais de 1 mil exames de ressonância magnética foram feitos durante o sono aos 6, 12 e 24 meses de vida dos participantes.

Estudos anteriores da equipe revelaram que, embora as características comportamentais do autismo não estejam presentes aos 6 meses de vida, crianças mais tarde diagnosticadas como autistas têm problemas durante a primeira infância para atender a estímulos visuais de seu entorno. Uma hipótese é que essa dificuldade possa aumentar o estresse na amígdala, levando ao seu crescimento excessivo.

“Nossa pesquisa sugere que um momento ideal para iniciar intervenções e apoiar crianças com maior probabilidade de desenvolver autismo pode ser durante o primeiro ano de vida. O foco de uma intervenção pré-sintomática pode ser estimular o processamento visual e sensorial em bebês antes mesmo de os sintomas sociais aparecerem”, propões o autor sênior da pesquisa, Joseph Piven, professor de psiquiatria e pediatria da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.