• Redação Galileu
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Célula infectada (formato de taça de vinho) aparece cercada por células não infectadas na mucosa olfatória de um paciente com Covid-19 que morreu quatro dias após o diagnóstico.  (Foto: Unidade de Pesquisa MP f. Neurogenética / Mona Khan)

Célula infectada (formato de taça de vinho) aparece cercada por células não infectadas na mucosa olfatória de um paciente com Covid-19 que morreu quatro dias após o diagnóstico. (Foto: Unidade de Pesquisa MP f. Neurogenética / Mona Khan)

Não são poucos os casos de pacientes com Covid-19 que perderam o olfato, seja por curto ou longo prazo. Segundo um novo estudo, a habilidade de sentir cheiro pode ser prejudicada pois o Sars-CoV-2 atinge as células sustentaculares localizadas no epitélio olfatório. Os resultados foram publicados no jornal científico Cell, no dia 2 de novembro.






Também chamadas de células de suporte, essas estruturas auxiliam os neurônios sensoriais auditivos no suporte estrutural e metabólico, segundo sugeriram estudos realizados em animais. Contudo, até então, análises com amostras de seres humanos nunca tinham sido feitas.

Acontece que obter coletas da mucosa olfatória em pacientes não é algo prático, pois ela se encontra oculta na cavidade nasal. Então, em vez disso, um grupo de pesquisadores, que inclui especialistas da Unidade de Pesquisa Max Planck para Neurogenética, na Alemanha, coletou tecidos de indivíduos mortos pela Covid-19.

As amostras de mucosa foram coletadas por um endoscópio no período de 60 a 90 minutos após a morte dos pacientes. "Graças a este curto intervalo pós-morte, as amostras de tecido estavam em perfeitas condições para estudos de biologia molecular", avalia Laura Van Gerven, uma das líderes do estudo, em comunicado.

Em seguida, a equipe utilizou um microscópio para estudar as coletas, visualizando, em cores distintas, vários tipos de moléculas de RNA do Sars-CoV-2, que revelaram diversas categorias de células. Eles também usaram alguns métodos clássicos de coloração de células usando anticorpos.

Os resultados indicaram que o coronavírus infectou as células sustentaculares no epitélio olfatório, replicando-se dentro delas vigorosamente. Porém, a análise de um paciente em específico mostrou que a infecção dessas estruturas não altera a expressão de genes do receptor olfatório em neurônios.

O RNA viral também não foi detectado nas células nervosas do bulbo olfatório, o que sugere que o vírus não infecta diretamente os neurônio  — e, portanto, não é neurotrópico. A equipe acredita que a perda de olfato tem, na verdade, origem no papel insuficiente das células sustentaculares. 

O resultado da infecção dessas células varia de pessoa para pessoa, mas os cientistas especulam que o sistema imunológico possa não ser capaz de protegê-las contra o coronavírus, devido à sua localização na superfície da mucosa nasal. Isso também abre caminho para que pacientes já recuperados de uma infecção — ou até vacinados — possam perder o olfato ao serem expostos ao Sars-CoV-2, segundo os pesquisadores