• Redação Galileu
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O tratamento da Aids é feito com medicamentos antirretrovirais (Foto: Pexels)

Aduhelm: como funciona o novo remédio contra Alzheimer aprovado nos EUA (Foto: Pexels)

Pela primeira vez nos últimos 18 anos, a agência reguladora Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, aprovou um novo medicamento para tratar pacientes com Alzheimer. Sob o nome comercial de Aduhelm, o fármaco liberado nesta segunda-feira (7) tem o nome genérico de aducanumab e atua para deter o declínio cognitivo relacionado à doença.

O medicamento, desenvolvido pela empresa Biogen Inc., foi liberado sob aprovação acelerada, que só é usada pela FDA em tratamentos para doenças graves ou que ameaçam a vida. Há expectativa de que a droga promova benefício clínico, porém a agência reconheceu que estudos com pacientes em estágio inicial do Alzheimer ainda "deixaram incertezas residuais” em relação a tal vantagem.

Ainda assim, a FDA optou pela aprovação citando que o tratamento é o primeiro a atuar na causa subjacente da doença, já que os outros remédios disponíveis focam apenas em sintomas. “Como aprendemos com a luta contra o câncer, o caminho de aprovação acelerada pode levar terapias aos pacientes mais rapidamente, estimulando mais pesquisas e inovações”, afirma Patrizia Cavazzoni, diretora da agência, em comunicado.






Como atua a droga?

O Aduhelm trabalha para remover os depósitos de uma proteína chamada beta-amiloide  presente no cérebro de pacientes nos estágios iniciais do Alzheimer. Cientistas acreditam que o acúmulo dessa substância no tecido cerebral é uma causa subjacente da doença, já que o mesmo ocorre conforme o sistema imunológico envelhece.

O Alzheimer é considerado um distúrbio cerebral irreversível e progressivo. Mudanças no cérebro, como o acúmulo de beta-amiloide, acabam resultando na perda de neurônios e de suas conexões. E é isso que prejudica a memória e a capacidade de raciocínio.

Como o Aduhelm foi testado?

Foram três estudos separados com um total de 3.482 pacientes, que têm a versão leve da doença. De acordo com a FDA, aqueles que receberam o Aduhelm tiveram redução significativa de beta-amiloide dependendo da dose e tempo do tratamento. O mesmo não ocorreu com quem não recebeu o fármaco.

O problema é que dois dos ensaios foram interrompidos em 2019, depois que uma análise provisória revelou que o remédio não trazia nenhum benefício aos pacientes. De acordo com a revista Science, um novo estudo voltou atrás e submeteu participantes a doses mais altas de Aduhelm, mostrando uma redução de 22% no declínio cognitivo dos voluntários.






Debate controverso

Alguns pesquisadores apoiaram a decisão da FDA acreditando que ela poderá estimular o desenvolvimento de medicamentos mais potentes no futuro. "Em nome das pessoas afetadas pelo Alzheimer e todos os outros tipos de demência, celebramos a decisão histórica de hoje", escreveu no Twitter a organização sem fins lucrativos Associação de Alzheimer, dos Estados Unidos.

Neurônios parcialmente atrofiados por conta do Alzheimer (Foto: Wikimedia Commons)

Neurônios parcialmente atrofiados por conta do Alzheimer (Foto: Wikimedia Commons)

Todavia, a reversão nos resultados deixou muitos pesquisadores céticos e vários exigiram novos testes antes mesmo da aprovação. Uma reunião da FDA em novembro de 2020 com um comitê consultivo independente também optou esmagadoramente por não apoiar os dados sobre eficácia do Aduhelm. Não se cogitou sequer a possibilidade de aprovação acelerada na ocasião.

De acordo com uma pesquisa que analisou as decisões da FDA entre 2008 e 2015, esse desencontro não costuma ocorrer frequentemente. Cerca de 89% das tomadas de decisão sobre medicamentos são alinhadas com seus comitês. Em 77% dos casos em que houve um conflito, ele ocorreu porque a agência optou por rejeitar uma droga pela qual o conselho votou pela aprovação.

A própria FDA admitiu que, apesar de ter aprovado o Aduhelm, ainda há dúvidas sobre o medicamento e que a manutenção da aprovação dependerá de uma nova fase de testes, que pode demorar anos. Ainda assim, a droga fica disponível para pacientes enquanto isso.

Outra questão controversa é que a prescrição do fármaco inclui possibilidade de reações alérgicas, tal como angioedema e urticária. Também pode causar inchaço temporário em áreas do cérebro, que na maior parte das vezes não gera sintomas, porém pode ocasionar dor de cabeça, confusão, tontura, alterações na visão ou náusea.

"Embora eu esteja satisfeito com a aprovação do aducanumabe, temos que deixar claro que, na melhor das hipóteses, essa é uma droga de benefício marginal que só ajudará pacientes selecionados com muito cuidado", comenta John Hardy, professor de neurociência da universidade de Londres, à agência RFI. “Precisaremos de drogas amilóides melhores no futuro”, acrescenta.