• Redação Galileu
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Micrografia eletrônica de partículas do vírus Sars-CoV-2 isoladas de uma amostra de um paciente (Foto: NIAID)

Micrografia eletrônica de partículas do vírus Sars-CoV-2 isoladas de uma amostra de um paciente (Foto: NIAID)

Na intenção de entender como a pandemia de Covid-19 surgiu, pesquisadores da Universidade Temple, nos Estados Unidos, reconstruíram o genoma do vírus que gerou todas as variantes do Sars-CoV-2. A pesquisa utilizou dados genéticos obtidos de pessoas infectadas desde dezembro de 2019.

Os cientistas publicaram suas conclusões na revista Molecular Biology and Evolution, nesta terça-feira (4). Eles acreditam que o genoma progenitor (proCoV2) é a mãe de todas as linhagens  do Sars-CoV-2 que já infectaram no passado ou ainda infectam pessoas atualmente.

"O vírus Sars-CoV-2 já infectou mais de 145 milhões de pessoas e causou 3 milhões de mortes em todo o mundo", lembra Sudhir Kumar, líder da pesquisa e diretor do Instituto de Genômica e Medicina Evolutiva da Universidade Temple, em comunicado. "Partimos para encontrar o ancestral comum genético de todas essas infecções, que chamamos de genoma progenitor."

Para identificar essa peça que faltava, os experts usaram uma abordagem que não havia sido aplicada ao Sars-CoV-2 anteriormente, chamada de análise de ordem de mutação. O método já é amplamente usado na pesquisa do câncer e serve para analisar cepas mutantes e a frequência em que pares de mutações aparecem juntos.

Modelo original do Sars-CoV-2 apresenta a partícula do vírus com esferas espalhadas pela superfície (Foto: Okinawa Institute of Science and Technology Graduate University)

Modelo original do Sars-CoV-2 apresenta a partícula do vírus com esferas espalhadas pela superfície (Foto: Okinawa Institute of Science and Technology Graduate University)

Assim, os experts descobriram que o proCoV2 surgiu na China e gerou várias variantes, entre elas, aquelas encontradas em Wuhan, em dezembro de 2019. Segundo Kumar, os acontecimentos desse período “representaram o primeiro evento superespalhante de um vírus que tinha todas as ferramentas necessárias para causar uma pandemia mundial imediatamente”.

Todavia, a estimativa é que o progenitor do Sars-CoV-2 já estivesse circulando pelo menos de 6 a 8 semanas antes do primeiro genoma de coronavírus sequenciado na China, conhecido como Wuhan-1. O início de circulação do proCoV2, segundo os especialistas, ocorreu no final de outubro de 2019.

"Encontramos impressões digitais genéticas do progenitor em janeiro de 2020 e posteriormente em múltiplas infecções por coronavírus na China e nos EUA. O progenitor estava se espalhando pelo mundo todo meses antes e depois dos primeiros casos relatados de Covid-19 na China", conta Sergei Pond, coautor do estudo.

Uma "família" de variantes

Os pesquisadores descobriram que o proCoV2 tinha uma sequência muito diferente daquela que foi observada em território chinês em 24 de dezembro de 2019. De um total de 140 genomas analisados, a relação mais próxima foi com oito genomas coletados entre 26 e 80 dias após essa data. 

Mesmo assim, 100% dos 140 genomas analisados tinham proteínas idênticas às proteínas proCoV2 correspondentes na sequência de aminoácidos. A maioria das amostras (93 genomas) eram de coronavírus amostrados na China e em outros países asiáticos.

Ao todo, os pesquisadores identificaram sete linhagens principais com capacidade de propagação global, todavia, o problema pode atingir mais o continente asiático."Cepas asiáticas criaram toda a pandemia", disse Kumar. "Mas com o tempo, muitas variantes que evoluíram em outros lugares estão infectando muito mais a Ásia."

Com tantas cepas, os cientistas tiveram que classificá-las por símbolos gregos (ν, α, β, γ, δ e ε) para simplificar a categorização do alto volume de informação. Para se ter ideia, desde que a primeira infecção pelo vírus Sars-CoV-2 foi registrada no mundo, estima-se que mais de um milhão de genomas do coronavírus tenham sido sequenciados.