• Redação Galileu
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O novo coronavírus SArs-Cov-2 causador da Covid-19 (Foto: Visual Science)

Variante P.1 no Sars-CoV-2 é mais ‘fujona’ da resposta imunológica de recuperados da Covid (Foto: Visual Science)

Ainda em 2020, quando Manaus enfrentava os primeiros (e já fortes) impactos da propagação do novo coronavírus, levantou-se a discussão sobre sua população ter atingido a imunidade de rebanho. Mas, em janeiro deste ano, a segunda onda da Covid-19 levou a cidade ao colapso. Segundo novo estudo publicado em abril na revista Science, o principal motivo para a nova crise sanitária é a variante P.1, mais transmissível e provavelmente mais capaz de escapar da resposta imunológica de pessoas recuperadas.

A pesquisa é uma colaboração entre especialistas da Dinamarca, do Reino Unido e do Brasil, incluindo Ester Sabino, uma das cientistas brasileiras que participaram do sequenciamento do novo coronavírus no país.

A equipe de pesquisadores criou um modelo epidemiológico com dados de sequenciamento genético para compreender o quão transmissível a P.1 poderia ser e o quão “fujona” ela seria da imunidade adquirida em uma infecção anterior. A conclusão foi a de que provavelmente ela é mais fugaz do que outras cepas.

Geneticamente, foram descobertas 17 mutações na variante P.1, três das quais estão localizadas na proteína spike, responsável pela entrada do vírus na célula humana. “Nossa análise mostra que a P.1 surgiu em Manaus em torno de novembro de 2020. Passou de não ser detectável a representar 87% das amostras genéticas positivas em apenas sete semanas”, explica Samir Bhatt, pesquisador do departamento de saúde pública da Universidade de Copenhague, em comunicado. “Desde então, tem se espalhado para diversos estados brasileiros e também para vários países pelo mundo.”

A construção do modelo baseou-se em diversas fontes de dados, como índices de mortalidade e sequências genéticas. Para melhor compreender o cenário observado em Manaus, a premissa foi comparar duas diferentes cepas de vírus. “Uma era a do coronavírus ‘normal’ e a outra foi dinamicamente ajustada a máquinas para se adequar aos eventos reais no Brasil”, conta o pesquisador.

Os resultados indicaram que a capacidade de propagação da P.1 é provavelmente maior do que outras linhagens: entre 1,7 e 2,4 mais transmissível. O modelo também permitiu identificar que a variante de Manaus deve conseguir escapar de 10% a 46% das respostas imunológicas obtidas por uma infecção com coronavírus não-P.1.

“Como pesquisadores, é nosso papel alertar sobre esses resultados para que sejam aplicáveis em qualquer outro lugar do mundo. Mas eles também ressaltam o fato de que uma maior vigilância sobre as infecções e as diferentes cepas do vírus é necessária em muitos países para controlar totalmente a pandemia”, conclui Bhatt.