• Redação Galileu
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Vacina (Foto: Pexels)

Sputnik V: o que se sabe sobre a vacina não testada da Rússia (Foto: Pexels)

Nesta terça-feira (11), a Rússia declarou que será o primeiro país do mundo a registrar uma vacina contra a Covid-19, causada pelo novo coronavírus. O anúncio foi feito pelo próprio presidente Vladimir Putin e levantou debates acerca do tema na comunidade científica, pois pouco se sabe sobre o imunizante.

De acordo com as autoridades russas, a vacina foi desenvolvida pelo Centro Nacional de Investigação de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya junto ao Ministério da Defesa. Ela foi batizada de "Sputinik V" em homenagem ao primeiro satélite a orbitar a Terra, o Sputinik, lançado em 1957 durante a corrida espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos.

Putin disse que uma de suas filhas recebeu o medicamento e teve febre após a vacinação, mas agora passa bem. "Esta manhã, pela primeira vez no mundo, uma vacina contra o novo coronavírus foi registrada”, disse Putin em uma transmissão televisiva local. "Eu sei que [o imunizante] é eficaz e forma imunidade sustentável."

As primeiras notícias sobre a vacina russa surgiram entre junho e julho, quando a Universidade Sechenov, em Moscou, declarou o sucesso do imunizante. Os testes foram realizados no Hospital Militar de Burdenko, também na capital do país, e consideraram duas versões do medicamento: a liofilizada (desidratada) e a líquida.

A primeira etapa dos testes com a versão liofilizada começou em 18 de junho e envoleu um grupo de 18 participantes; já a segunda contou com 20 voluntários, que foram vacinados em 23 de junho. A Universidade de Sechenov também testou a versão líquida do imunizante, desta vez em 38 pessoas.

"Trabalhamos com esta vacina, começando com estudos pré-clínicos e desenvolvimento de protocolos, e os ensaios clínicos estão em andamento", afirmou Vadim Tarasov, diretor do Instituto de Medicina Translacional e Biotecnologia, à agência de notícias russa Sputnik, em julho.

O que dizem os cientistas
O anúncio desta terça-feira causou reboliço na comunidade científica do mundo todo, principalmente porque nenhum estudo sobre os últimos testes com a vacina foi publicado. Além disso, a declaração de Putin ocorreu antes mesmo na terceira (e mais importante) fase de testes do medicamento.

O protocolo para a criação de uma vacina exige três etapas de ensaios clínicos: (1) avalia a segurança do imunizante e é testada em poucas dezenas de voluntários; (2) busca testar, além da segurança, a imunogenicidade (capacidade de proteção) da vacina, a dosagem e a forma como deve ser administrada e, para isso, é testada a centenas de voluntários; e (3) analisa a possibilidade e duração de prováveis efeitos colateriais do medicamento, testando em milhares de voluntários.

Para J. Stephen Morrison, vice-presidente do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, nos Estados Unidos, Putin está mudando as regras e pegando atalhos pois "precisa de uma vitória". "[O nome da vacina] é uma lembrança do momento Sputnik”, afirmou, segundo o The Washington Post. "É uma volta aos dias de glória da ciência russa, é colocar a máquina de propaganda russa em plena marcha. Acho que o tiro pode sair pela culatra."

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), o medicamento ainda está em sua primeira fase de testes e, na semana passada, pediu para que a Rússia siga as diretrizes estabelecidas e passe "por todas as etapas". Ainda assim, a aprovação do órgão não é necessária para que a vacina seja aplicada em cidadãos do país desenvolvedor.

"Estamos em contato próximo com as autoridades de saúde russas e discussões estão em andamento com relação à possível pré-qualificação da vacina pela OMS", afirmou Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS, segundo o The Washington Post. "Mas, novamente, a pré-qualificação de qualquer vacina inclui a revisão e avaliação rigorosas de todos os dados de segurança e eficácia necessários."

O Ministério da Saúde da Rússia pretende começar a produzir a vacina em massa nas próximas semanas para que em outubro os russos já comecem a ser vacinados. Professores, médicos e outros profissionais da saúde terão prioridade e serão os primeiros a receber o imunizante.

No Brasil
O governo no Paraná anunciou uma possível parceria com os russos para que a vacina seja produzida pelo Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). O intuito é abrir portas para que, no futuro, os paranaeses sejam imunizados com o medicamento.

"Tivemos a aprovação do embaixador e agora os protocolos do acordo serão preparados pelas equipes do Paraná e da Rússia", informou Guto Silva, chefe da Casa Civil do estado, em declaração. "Em seguida será agendada uma reunião dele com o governador Carlos Massa Ratinho Junior para a finalização dessa parceria, que pode incluir, ainda, a produção de medicamentos para a doença."