• Redação Galileu
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Cientistas identificam alterações genéticas que podem explicar formação de gêmeos idênticos (Foto: Trần Long/Pexels)

Cientistas identificam alterações genéticas que podem explicar formação de gêmeos idênticos (Foto: Trần Long/Pexels)

Não se encontra gêmeos idênticos em qualquer esquina. Conhecidos também como monozigóticos ou univitelinos, eles correspondem, no mundo inteiro, a quatro nascimentos em cada mil. Além de raro, o acontecimento é um mistério para a ciência, que ainda não conseguiu desvendar quais mecanismos explicam esse tipo de formação embrionária. Mas, agora, parece que estamos um pouco mais perto de entender esse processo, como mostra um artigo publicado na revista Nature no último dia 28 de setembro.

É fato que gêmeos idênticos são originados quando um único óvulo se divide após ser fertilizado por um espermatozoide, resultando em dois embriões com o mesmo DNA. Dando um passo a mais, o estudo liderado por Jenny van Dongen e Dorret Boomsma, ambas da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, decidiu investigar o epigenoma, um conjunto de marcas químicas que se acumulam ao longo do desenvolvimento humano e determinam a quantidade expressa de genes. Entre elas está o grupo metila, que consegue “ligar” e “desligar” os genes.

Com amostras de sangue e de células da bochecha, a equipe internacional analisou os epigenomas de mais de 3 mil gêmeos idênticos. Também foram avaliados os materiais genéticos de gêmeos fraternos (ou bivitelinos) e de pais de alguns gêmeos. Observando cerca de 400 mil locais diferentes de cada genoma, os profissionais concluíram que 800 deles são divergentes quanto à metilação e distinguem os gêmeos idênticos dos demais.

Assim os especialistas descobriram que gêmeos idênticos têm uma assinatura molecular no DNA que mais ninguém apresenta. “Provavelmente é algo estabelecido bem cedo e propagado para células subsequentes”, comenta van Dongen. Para ela, trata-se de um ponto de partida para compreendermos um assunto que é, de fato, um enigma, conforme disse à revista Science Magazine.

O artigo também destaca que faz sentido algumas regiões serem metiladas, como os genes envolvidos na adesão celular que podem facilitar que um óvulo fertilizado se separe em dois embriões. No entanto, os profissionais não compreenderam todas as descobertas. Mudanças relacionadas no fim dos cromossomos, por exemplo, não têm uma explicação evidente, porque essas áreas estão ligadas ao envelhecimento — e a expectativa de vida de gêmeos idênticos é similar à das outras pessoas.

Esse diferencial identificado pelo estudo implica uma consequência inédita: uma vez que univitelinos carregam uma assinatura molecular única e duradoura, seria possível realizar um diagnóstico retrospectivo, mostrando se uma pessoa foi concebida como um gêmeo monozigótico e já teve um irmão idêntico “desaparecido”, que morreu ainda no útero. A cientista van Dongen afirma que testes epigenéticos seriam capazes de prover essa informação em 70% a 80% dos casos.

Em algumas situações, um feto gêmeo pode aparecer no ultrassom antes de sumir por falta de espaço ou nutrientes, mas, em outras, pode ser absorvido sem deixar rastros. De acordo com dados mencionados no estudo disponível na Nature, cerca de 12% das gestações começam como múltiplas (incluindo gêmeos fraternos), mas apenas 2% delas dão à luz a gêmeos.

Além disso, os pesquisadores acreditam que o trabalho pode suscitar grandes novidades sobre distúrbios raros que envolvem mudanças epigenéticas, como a Síndrome de Beckwith-Wiedemann, que afeta o crescimento de algumas partes do corpo, gerando dismorfismos, e é mais comum em gêmeos idênticos do que em pessoas que nasceram de uma gravidez única.

Entender as alterações epigenéticas e sua possível relação com a divisão de um óvulo ainda requer mais trabalhos em laboratório com apoio de estruturas semelhantes a embriões. Por enquanto, a pesquisa liderada pela Universidade Livre de Amsterdã apresenta potenciais mecanismos que podem explicar a geração de gêmeos idênticos.