• Revista Galileu
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Os jarros onde o ópio foi detectado estava colocado estrategicamente sobre o corpo do falecido (Foto: Assaf Peretz, Autoridade de Antiguidades de Israel.)

Os jarros onde o ópio foi detectado estava colocado estrategicamente sobre o corpo do falecido (Foto: Assaf Peretz, Autoridade de Antiguidades de Israel.)

O ópio é um dos narcóticos mais conhecidos na história mundial, chegando a ser um dos motivos para o estouro de guerras entre China e Grã-Bretanha no período de 1839 a 1860. Sua produção é feita a partir de papoulas da Ásia Menor, mais especificamente no território atual da Turquia.

Agora, uma pesquisa fruto de colaboração entre a Autoridade de Antiguidades de Israel, a Universidade de Tel Aviv e o Instituto Weizmann de Ciência aponta novas evidências do uso da droga no Oriente Próximo.

As conclusões vieram após uma análise de resíduos orgânicos em oito vasos de cerâmicas achados durante uma escavação em Israel. Junto dos recipientes, várias sepulturas cananeias do final da Idade do Bronze também foram encontradas.

Túmulo cananeu com vários artefatos e animais sacrificados, que foram oferecidos ao falecido por seus parentes durante a cerimônia de sepultamento. (Foto: Assaf Peretz/Israel Antiquities Authority)

Túmulo cananeu com vários artefatos e animais sacrificados, que foram oferecidos ao falecido por seus parentes durante a cerimônia de sepultamento. (Foto: Assaf Peretz/Israel Antiquities Authority)

Publicado no periódico Archaeometry, o artigo descreve que os vasos de cerâmica datavam do século 14 a.C. e eram parte de um ritual funerário. Para os pesquisadores, os recipientes eram específicos para reservar ópio, uma vez que tinham formato semelhante à flor de papoula quando está fechada e de cabeça para baixo.

Entretanto, até o momento, os pesquisadores não podem afirmarsobre o real papel que o opioide representava nos rituais. As duas teorias mais acreditadas até o momento consideram que a droga ou era usada como rito de passagem ou consumida pelos sacerdotes.

Imagem de Vanessa Linares, representante da Universidade de Tel Aviv, durante a catalogação dos achados (Foto: Tel Aviv University)

Imagem de Vanessa Linares, representante da Universidade de Tel Aviv, durante a catalogação dos achados (Foto: Tel Aviv University)

“A partir de documentos que foram descobertos no Antigo Oriente Próximo, parece que os cananeus davam grande importância a 'satisfazer as necessidades dos mortos' por meio de cerimônias rituais realizadas para eles pelos vivos e acreditavam que, em troca, os espíritos garantiriam a saúde e segurança de seus parentes”, comenta, em nota, um dos co-autores do estudo, Ron Be'eri.

Para além de ser a mais antiga evidência conhecida do uso de alucinógenos no mundo, a descoberta também confirma teorias históricas e hipóteses arqueológicas antigas, segundo as quais o ópio e seu comércio desempenharam um papel central na cultura do Oriente Próximo. 

As teorias começaram a ser mais aceitas após a descoberta de que grande parte da cerâmica pertencia à ilha de Chipre. "Em outras palavras, o ópio foi trazido para Yehud [em Israel] da Turquia através de Chipre; isso, claro, indica a importância que foi atribuída à droga”, analisa Vanessa Linares, da Universidade de Tel Aviv.