• Redação Galileu
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Copo de Nestor,contém uma das inscrições mais antigas em grego  (Foto: Gigante et al., 2021, PLOS ONE, CC-BY 4.0)

Copo de Nestor contém uma das inscrições mais antigas em grego (Foto: Gigante et al., 2021, PLOS ONE, CC-BY 4.0)

Desde que foi descoberta, em 1954, a Taça de Nestor está envolta em mistério. Pesquisadores se perguntam quem fora enterrado junto ao cálice, localizado em uma tumba de 2,8 mil anos na ilha italiana de Ischia. Até então, supunha-se que jazia junto ao objeto os restos de um jovem de 10 a 14 anos de idade, porém um novo estudo, publicado nesta quarta-feira (6) no jornal cientifico PLOS ONE, causou uma reviravolta nessa história






Surpreendentemente, pesquisadores identificaram na tumba remanescentes não de uma, mas de pelo menos três pessoas. A descoberta foi liderada por especialistas da Universidade de Pádua, na Itália, e contou com a análise microscópica de 195 fragmentos dos ossos queimados – dos quais 130 eram de humanos e outros 45 de animais, como cabras e possivelmente cães.

Segundo comunicado, os tecidos ósseos humanos eram de três indivíduos de idades diferentes. Porém, os cientistas ainda não sabem detalhes sobre essas pessoas, como a idade ou o porquê dos corpos terem sido enterrados na tumba com a taça. Já os restos dos animais podem ter sido colocados no local como forma de alimento em algum ritual funerário para acompanhar os falecidos na vida após a morte, segundo supõe a equipe.

Fragmentos de ossos humanos encontrados na tumba da Taça de Nestor (Foto: Melania Gigante et.al )

Fragmentos de ossos humanos encontrados na tumba da Taça de Nestor (Foto: Melania Gigante et.al )

De acordo com o site Haaretz, a tumba, chamada de “Cremação 168”, apresenta também um rico conjunto de artefatos, incluindo um broche de prata e 24 vasos de cerâmica quebrados. Mas o que mais chama a atenção dos pesquisadores é a própria Taça de Nestor, considerada uma das descobertas mais intrigantes da arqueologia pré-clássica mediterrânea.

O cálice era possivelmente utilizado para tomar vinho e tem decorações com motivos geométricos. Uma inscrição presente na peça diz: “Eu sou o copo de Nestor, bom de beber. Quem quer que beba este copo vazio, imediatamente o desejo pela bela-coroada Afrodite irá apoderar-se dele”.

Restos mortais de animais encontrados pelos pesquisadores na tumba da Taça de Nestor (Foto: Melania Gigante et.al )

Restos mortais de animais encontrados pelos pesquisadores na tumba da Taça de Nestor (Foto: Melania Gigante et.al )

O texto é uma referência satírica a Nestor, o lendário rei de Pilos, que é um dos heróis gregos da Ilíada de Homero. Diz o poema épico que o personagem possuía um cálice de ouro gigante tão pesado que, quando estava cheio de vinho, “outro homem mal teria levantato aquele copo da mesa”. Porém, na vida real, a taça de cerâmica tem um tamanho modesto.






De qualquer forma, o achado fornece informações cruciais sobre a história do alfabeto grego e sobre os poemas de Homero, pois é sinal de que no século 8 a.C. as tradições orais da narrativa épica da Guerra de Troia já estavam sendo registradas em escritos e divulgadas de modo amplo no Mediterrâneo.