• Redação Galileu
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Itens funerários encontrados em sepultura da Idade do Bronze em Múrcia, na Espanha  (Foto: Divulgação/ASOME-UAB)

Itens funerários encontrados em sepultura da Idade do Bronze em Múrcia, na Espanha (Foto: Divulgação/ASOME-UAB)

Especialistas que estudaram uma tumba no sítio arqueológico de Almoloya, no sudeste da Espanha, acreditam que, na antiga sociedade de El Argar, as mulheres da elite lideraram o poder político há 4 mil anos, durante a Idade do Bronze. Os resultados do estudo foram publicados nesta quinta-feira (11), no jornal Antiquity.

El Argar, que fica no atual município espanhol de Múrcia, foi uma sociedade que existiu entre 2200 a.C e 1550 a.C, sendo que nos seus últimos dois séculos de sua existência se desenvolveu na primeira organização estatal do Mediterrâneo Ocidental.

Pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), na Espanha, analisaram as sepulturas de uma tumba chamada de Sepultura 38, que foi descoberta originalmente em 2014 no sítio de Almoloya.

Por lá, havia restos mortais de dois indivíduos: um homem com cerca de 35 a 40 anos e uma mulher de 25 a 30 anos de idade. Ao lado dos mortos, estavam aproximadamente 30 itens funerários – vários inclusive feitos de prata.

Homem e mulher enterrados em tumba da Idade do Bronze (Foto: Divulgação/Universidade Autónoma de Barcelona)

Homem e mulher enterrados em tumba da Idade do Bronze (Foto: Divulgação/Universidade Autónoma de Barcelona)

A maioria dos objetos, de acordo com os arqueólogos, pertenciam provavelmente à mulher. Entre eles, havia joias, pulseiras, tampões para as orelhas, colares, recipientes com oferendas de animais e um diadema de prata, que estava na cabeça da vítima.

Análises genéticas revelaram que a mulher morreu simultaneamente ou em tempo muito próximo ao homem, em meados do século 17 a.C. Eles não eram parentes e tinham uma filha, que foi encontrada enterrada perto deles.

Marcas nas costelas da mulher indicaram que ela morreu de infecção pulmonar; já o parceiro veio à óbito por alguma intensa atividade física, possivelmente por um passeio a cavalo, conforme mostra o desgaste dos ossos dele.

O sítio arqueológico de Almoloya, no sudeste da Espanha  (Foto: Divulgação/ASOME-UAB)

O sítio arqueológico de Almoloya, no sudeste da Espanha (Foto: Divulgação/ASOME-UAB)

Os pesquisadores acreditam que na sociedade argárica as mulheres eram tradicionalmente enterradas com diademas e itens funerários em maior quantidade do que os homens, que eram sepultados com espadas e punhais. Como eram mais importantes, elas também iam para o mundo dos mortos com objetos de maior qualidade.

"O papel das mulheres no passado era muito mais revelante do que ousamos imaginar", diz a coautora do estudo, Cristina Rihuete-Herrada, em entrevista à CNN. “Isso diz muito sobre o processo de silenciamento que as mulheres têm sofrido desde então”, completa.

O líder da pesquisa, Vicente Lull, afirma em comunicado que as descobertas são “excepcionais achados arqueológicos”, que “de vez em quando permitem vislumbrar os membros dominantes e os objetos emblemáticos das primeiras sociedades estatais emergentes na Europa durante a Idade do Bronze”, resume.