A cidade de Votuporanga, localizada no interior paulista, registrou quatro casos do sorotipo 3 da dengue na última semana. O primeiro caso, detectado em uma mulher de 34 anos, chamou a atenção por causa da intensidade dos sintomas clássicos da doença, como febre, vômito, dor e manchas vermelhas pelo corpo, além de sangramento nasal e pela urina.
Após a confirmação do primeiro caso, a Secretaria Municipal de Saúde iniciou ações de pulverização e de bloqueio, que incluem a identificação de circulação do sorotipo. Durante esse trabalho de monitoramento, mais sete casos foram identificados como suspeitos e as amostras foram colhidas e enviadas para a análise. Dos sete, três foram confirmados para o tipo 3 da dengue, sendo todas as pessoas do sexo feminino, com 5, 31 e 46 anos. Todos os casos pertencem ao mesmo território, localizado em um bairro da região sul da cidade. Segundo a pasta, as quatro pessoas estão em casa e passam bem. Até o momento, o município possui 876 casos de dengue e 98 seguem em investigação.
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Sorotipos da dengue
De acordo com a Fiocruz, a dengue tem quatro sorotipos, e a infecção por um deles cria imunidade contra o mesmo sorotipo, no entanto, o indivíduo pode contrair dengue se tiver contato com um sorotipo diferente. “O problema é que os sintomas da dengue tipo 3 são os mesmos do tipo 1 e 2. Como muitas pessoas já tiveram os tipos 1 e 2, ao ter o tipo 3, podem desenvolver uma forma grave da doença, o que pode gerar superlotação das unidades de pronto atendimento e hospitais", diz o infectologista Kleber Luz, coordenador do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia. Por isso, alerta o infectologista, é preciso ter maior vigilância sobre as formas graves da doença. "Do ponto de vista clínico, não há diferença, mas o que chama mais a atenção é a gravidade do caso, por ser uma infecção sequencial. No México e na América Central, por exemplo, a doença tem causado mais mortes”, acrescenta Kleber Luz.
Entre os sintomas de alerta da doença, estão: febre, manchas vermelhas pelo corpo, dor abdominal, vômito persistente, acompanhados também de sangramento na gengiva, no nariz ou na urina. Ao perceber qualquer sintoma, a pessoa deve procurar atendimento médico na unidade de saúde mais próxima. As formas de prevenção são as já conhecidas pela população: limpeza dos quintais para evitar água empoçada, que é criadouro do inseto, e receber os agentes de saúde para fazer a vistoria em possíveis focos do mosquito Aedes aegypti.
De onde veio o sorotipo 3?
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já havia alertado para o reaparecimento do sorotipo 3 do vírus da dengue no Brasil, que não era visto há 15 anos. Em maio, foram apontados três casos em Roraima, na Região Norte, e um no Paraná, no Sul do país. Por estar ausente por tanto tempo, o possível retorno do sorotipo preocupa os pesquisadores.
"Nesse estudo, fizemos a caracterização genética dos casos de infecção pelo sorotipo 3 do vírus dengue. É um indicativo de que poderemos voltar a ter, talvez não agora, mas nos próximos meses ou anos, epidemias causadas por esse sorotipo", alertou, em nota, o virologista Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes, Reemergentes e Negligenciados da Fiocruz Amazônia e pesquisador do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz, que atua como referência regional para dengue, febre amarela, chikungunya, Zika e vírus do Nilo ocidental.
De acordo com o virologista, as análises indicam que a linhagem detectada chegou no continente americano através da Ásia, no período entre 2018 e 2020, provavelmente no Caribe. "A linhagem que detectamos do sorotipo 3 não é a mesma que já circulou nas Américas e causou epidemias no Brasil no começo dos anos 2000. Nossos resultados mostraram que houve uma nova introdução do genótipo III do sorotipo 3 do vírus da dengue nas Américas, proveniente da Ásia. Essa linhagem está circulando na América Central e recentemente também infectou pessoas nos Estados Unidos", afirmou o especialista.
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