Cerca de 100 crianças por dia são chantageadas por fotos de nudez

Sean Sutton, chefe da Agência Nacional do Crime, do Reuno Unido, disse que muitas vítimas se sentem culpadas. “Nossa mensagem é: 'Você não fez nada de errado'. Até as pessoas mais inteligentes foram enganadas por esses terríveis criminosos”, ressaltou. “É um crime hediondo. Eles não têm nenhuma preocupação com sua vítima. Eles têm a intenção de destruir vidas, ou dizem que vão fazer isso”, completou.

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A equipe que cuida das ameaças de abuso sexual infantil da Agência informou ao The Mirror que a extorsão sexual de crianças por motivos financeiros tem crescido em todos os aplicativos de mídias sociais. Uma análise de relatórios de crimes mostra que os criminosos vasculham uma vasta gama de plataformas, incluindo Facebook e TikTok, para chegar às crianças. Os aplicativos mais usados ​​para esse tipo de crime são o Snapchat e o Instagram.

Gangues criminosas criam identidades falsas, usando fotos roubadas, para solicitar amizade. Depois de uma breve aproximação de conquista online, os golpistas avançam para um bate-papo sexualizado e começam a enviar e solicitar fotos explícitas. Uma vez que recebem essas imagens, os criminosos exigem dinheiro, alertando que, caso não recebam, elas serão compartilhadas com os contatos da vítima nas redes sociais, como familiares e amigos.

Dinal De Alwis, um adolescente de 16 anos, se suicidou depois de ser chantageado por um desses criminosos no Snapchat. Por volta da 1h da manhã de um dia de 2022, o jovem recebeu duas fotos dele sem roupa. Não está claro como o chantagista teve acesso às imagens. O inquérito, realizado no sul de Londres, mostrou uma das mensagens do golpista que dizia: “Então, você acha que me bloquear pode me impedir? Você quer que eu envie [as fotos] para todos os seus seguidores? Por que você não pode simplesmente me pagar? £100?”

Dinal saiu de casa às 2h, gravou um pequeno vídeo e seu corpo foi encontrado pouco mais de uma hora depois. O pai dele, Kaushallya, disse ao legista: “Dinal era o filho mais carinhoso. É incrivelmente doloroso. Ele queria evitar qualquer vergonha com a divulgação das imagens. Eu gostaria que ele tivesse conversado conosco”.

Em alguns dos casos analisados pelo Mirror, os criminosos orientavam as vítimas para cometerem outros crimes, como vender drogas ou permitir a instalação de malware (softwares maliciosos) nos computadores da família. Sutton, que incentiva as pessoas a denunciarem estes crimes à polícia, disse que parece que os gangues estão se aproveitando cada vez mais da tecnologia de inteligência artificial para tornar as fraudes mais convincentes.

“Eles escrevem o roteiro em seu idioma e depois usam a IA para traduzir como um garoto de 15 anos falaria”. O Mirror também perguntou a todas as 43 forças policiais da Inglaterra e do País de Gales sobre o número de menores de 18 anos chantageados por causa de fotos nuas. Os números das 28 forças que responderam mostram 3.382 incidentes relatados até junho de 2023 – um aumento de 390% em relação aos 689 reportados em 2020/21. Isso sugere que poderia ter havido mais de 7 mil incidentes de “sextorção”, como são chamados os crimes de extorsão com fotos e vídeos de nudez, relatados à polícia em todo o Reino Unido – ou 19 por dia. Mas ainda há subnotificação, já que vários casos não são denunciados, o que leva os especialistas a estimarem que o número verdadeiro gira em torno de 100 por dia.

O maior aumento – 2.700% – vem da área da Grande Manchester, onde os incidentes relatados por menores de 18 anos aumentaram de 20 para 560. A Internet Watch Foundation afirma que, nos primeiros seis meses de 2023, os relatórios à sua linha direta dedicada ao abuso infantil envolvendo sextorção aumentaram. 257% em comparação com todo o ano de 2022.

Cormac Nolan, da Childline, disse: “Este tipo de abuso é muito angustiante, e é por isso que nós, em parceria com a IWF, criamos a ferramenta Report Remove. As crianças podem acessar a ferramenta no site Childline, para obter ajuda para retirar imagens ou vídeos de nudez que estão na internet”.

Além do caso de Dianl, houve uma série de tragédias desencadeadas pela sextorção, em que adolescentes tiraram a própria vida por vergonha. Ronan Hughes, 17, do condado de Tyrone, na Irlanda do Norte, suicidou-se em 2015 depois de ter sido alvo de uma gangue no Facebook, na Roménia. Eles ameaçaram divulgar suas fotos para sua família, a menos que ele lhes enviasse £ 3.400 em criptomoedas. Ronan disse a eles: “Tenho apenas 17 anos, por favor, estou implorando - não façam isso”. Mas o chantagista respondeu: “Isso não é problema meu. A burrice tem um preço. E você vai pagar. Você quer contar para sua mãe ou eu devo contar? Você tem 48 horas a partir de agora. O tempo está se esgotando!". Ronan foi encontrado morto em um campo perto de sua casa. Depois, os golpistas foram pegos na Romênia e ficaram presos por quatro anos.

Em 2013, Danny Perry, de 17 anos, de Dunfermline, em Fife, morreu ao pular da ponte Forth Road. Ele foi levado a um bate-papo explícito no Skype com alguém que ele pensava ser uma garota americana da sua idade. Mas uma gangue ameaçou mostrar o vídeo para sua família e amigos, a menos que ele transferisse dinheiro. Dois homens foram posteriormente presos nas Filipinas, sob suspeita de chantageá-lo, mas não foram processados.

Abaixo, confira 5 dicas valiosas para proteger e ajudar crianças e adolescentes a terem mais segurança em ambientes virtuais:

1. Converse com o seu filho. A chamada educação digital é real e necessária. Explique sobre a internet e suas implicações - positivas e negativas -, de acordo com o desenvolvimento dele, claro.
2. Conheça o seu filho. É o que Filipe Colombini, psicólogo e CEO da Equipe AT, explica como responsividade parental. “Esteja sensível às necessidades do seu filho – o que só é possível com proximidade e vínculo. É assim que você entende quais são os padrões de comportamento da criança: como representa os afetos? Interage? Reage?”, diz o especialista.
3. Fique atento aos sinais. E isso passa por conhecer como a criança lida nas mais variadas situações. Irritabilidade, agressividade, comentários, expressão nas brincadeiras ou em desenhos podem dar pistas de que tem algo errado acontecendo na vida dela dentro (ou fora) das telas.
4. Adote a monitoria positiva. “E o positivo aqui não é fazer o que a criança quer”, afirma o psicólogo. Ou seja, deixe claro para o seu filho que você precisa estar ciente do que ele faz na web, por mais que ele não goste, se frustre e se irrite. Dê limites sobre acessos, seja por meio de ferramentas de bloqueio, verificação de histórico, tempo de telas e muita conversa.
5. Mergulhe no mundo social virtual da criança. Isso quer dizer estar junto, saber o que ela está acessando, ouvindo, dançando. Quais mensagens tal dança ou vídeo está passando? “Do mesmo jeito que os pais pesquisam determinado assunto para o trabalho, eles precisam ter tempo e acessar esse universo virtual do filho”, finaliza Colombini.