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Existem doenças menos comuns durante a gestação, mas que quando aparecem precisam ser acompanhadas bem de pertinho. É o caso do hipertireoidismo, na qual a glândula tireoide produz excesso de hormônios tireoidianos, T3 e T4, acelerando o metabolismo e desequilibrando diversas funções do corpo. Na gestação, embora apareça mais raramente, pode ser grave e trazer consequências tanto para a mãe quanto para o bebê.

Quanto mais cedo a condição for descoberta, melhor. É por isso que o ideal seria ter o diagnóstico antes mesmo de engravidar, assim há uma liberdade maior no tratamento — há medicações que não podem ser tomadas durante a gestação — e a futura mãe já entraria na gravidez com os hormônios equilibrados, sem oferecer risco maior ao pequeno.

Médico tocando pescoço de paciente — Foto: Freepik
Médico tocando pescoço de paciente — Foto: Freepik

Há casos, no entanto, em que o hipertireoidismo aparece durante a gestação ou mesmo no pós-parto. Nessas situações, o acompanhamento com o obstetra e o endocrinologista no pré-natal são fundamentais para o bem-estar da mãe e de seu filho que precisam ser monitorados de perto. Quando não acompanhados, há o risco de sofrimento fetal, complicações no desenvolvimento do bebê e risco de parto prematuro.

Por isso, antes de tudo, fique de olho nos sintomas! Os mais comuns são perda de peso inexplicável (mesmo durante a gravidez), palpitações, ansiedade, irritabilidade, calor excessivo, fadiga muscular, insônia, aumento de apetite e desarranjos gastrointestinais. Os olhos mais saltados da órbita e inchaços na região da garganta também podem ser sinais que merecem investigação.

“São sintomas inespecíficos. Então, por exemplo, uma taquicardia, cansaço, uma ansiedade ou anemia já são normais na gestante. Então, é preciso prestar atenção se há algum outro sintoma associado, principalmente a perda de peso, e ver se está mais agitada. Se estiver, comunique o médico, porque é um exame muito simples de se fazer e que pode mudar totalmente o curso da gestação”, explica Carolina Ferraz, endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).

Um exame de sangue já é capaz de mostrar os níveis dos hormônios tireoidianos. Diante de alterações, os médicos podem solicitar novos exames, como um ultrassom, ou já iniciar o tratamento. “Tratar corretamente e estar bem acompanhado com especialista é o que vai fazer a diferença no sucesso da gestação”, conclui a endocrinologista. A seguir, fique por dentro de tudo que envolve essa doença, suas causas, como ela se comporta na gestação e quais tratamentos as grávidas podem fazer com segurança.

O que é o hipertireoidismo?

O hipertireoidismo ocorre quando a glândula tireoide começa a produzir em excesso os hormônios tri-iodotironina (T3) e a tiroxina (T4). Isso acelera o metabolismo e desregula diversas funções importantes do organismo.

A endocrinologista Carolina explica que o T3 e o T4 são como o combustível do nosso corpo. Eles vão influenciar do cabelo até as unhas! Todos os órgãos têm receptores para esses hormônios e, em cada um, eles exercem uma função. E mais: a cada época da vida eles também desempenham um papel específico. “Por exemplo, no bebê eles ajudam no crescimento, desenvolvimento neurológico, batimento cardíaco, além de regular a temperatura corporal e o funcionamento do intestino. Já no adulto, regulam o humor e têm função na fertilidade, entre outras. Por todas essas razões, eles são essenciais e influenciam praticamente todo o organismo”, explica a médica.

Quais as causas mais comuns na gestação?

O mais comum é que a pessoa já entre na gestação com um quadro de hipertireoidismo, porém, embora mais raro, ele pode sim surgir durante a gravidez ou mesmo após ela.

“Existem diversas causas, sendo a mais comum uma doença autoimune da tireoide, a Doença de Graves. O corpo produz um anticorpo que se chama TRAb, que estimula a tireóide a trabalhar mais. E aí, com isso, há um aumento da produção desse T3 e T4, que vão gerar os sintomas de hipertireoidismo”, conta a diretora da SBEM.

Uma segunda possibilidade é existir um nódulo dentro da tireoide, que começa a produzir hormônio de forma autônoma e sem controle. Por fim, além dessas duas causas mais comuns, existem também as situações transitórias que são chamadas de tireoidites. Nesse caso, são inflamações da tireoide, que podem ser desencadeadas após uma reação a uma doença viral ou bacteriana. “O vírus (ou bactéria) pode atacar a tireoide, destruir as células e essa destruição liberar muito o hormônio na circulação e com isso dar sintomas de hipertireoidismo”, explica Carolina. Segundo ela, é o que aconteceu com muitas pessoas que tiveram tireoidite pós-covid.

Especificamente durante a gestação também pode haver um hipertireoidismo transitório (ou tireotoxicose gestacional) que acomete principalmente o primeiro trimestre. “Acontece no comecinho da gestação por conta do beta HCG que estimula a tireoide e pode liberar um pouquinho mais de hormônio. É fisiológico, é normal, é pra trazer mais hormônio pro bebê”, pontua a endocrinologista.

De acordo com o posicionamento “Rastreio, diagnóstico e manejo do hipertireoidismo na gestação”, assinado pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) junto com o Departamento de Tireoide da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a condição transitória não demanda uso de medicamento e costuma permanecer até a 18ª semana de gestação.

Quais os principais sintomas do hipertireoidismo?

Os sintomas podem variar de acordo com a causa e a saúde geral de cada pessoa. “É como se estivéssemos com gasolina a mais, tudo funcionando muito. Então o coração acelera, intestino acelera, a nossa temperatura tende a subir, temos uma queima de gordura e músculo maior, aceleramento da osteoporose e pode dar mais ansiedade também”, conta a endocrinologista.

Confira abaixo os principais sintomas:

  • Aumento da frequência cardíaca;
  • Perda de peso mesmo com aumento de apetite;
  • Fadiga;
  • Nervosismo e ansiedade;
  • Calor excessivo;
  • Transpiração aumentada;
  • Mudanças nos padrões de sono;
  • Diarreia frequente;
  • Queda de cabelo e unhas quebradiças;
  • Olhos saltados da órbita (apenas em casos de Doença de Graves);
  • Inchaço no pescoço (geralmente, em casos de Doença de Graves).

E como é o diagnóstico?

É simples e tudo bem fazer durante a gestação, viu? Basicamente, são pedidos exames de sangue que medem os níveis dos hormônios tireoidianos com indicação para TSH (hormônio estimulador da tireoide), T4 livre e T3 total. De acordo com o posicionamento da Febrasgo, “o diagnóstico laboratorial de hipertireoidismo na gestação é definido como TSH diminuído e T4L elevado, usando-se valores de referência específicos para gestantes”.

Para fechar o diagnóstico e descobrir a causa do hipertireoidismo, aí o endocrinologista pode pedir mais exames, como por exemplo a dosagem do TRAb, que é para investigar esse anticorpo da Doença de Graves, assim como o ultrassom para checar se existem nódulos ou se a tireoide está aumentada. Já a cintilografia (exame de alta sensibilidade) tem contraindicação absoluta na gravidez.

A importância do acompanhamento antes da gestação

Por ser uma doença que pode trazer riscos tanto para mãe quanto para o bebê, se for descoberta antes de engravidar melhor. Assim há chance de já chegar na gestação com a doença monitorada e sob controle, o que oferece menos perigo de trazer consequências ao feto. Portanto, olhos atentos aos sintomas descritos acima.

E mais do que isso: se há casos de hipertireoidismo ou doenças autoimunes da tireoide na sua família, atenção ainda maior porque é possível que haja uma predisposição genética que pode ser ativada em algum momento da vida. “O gatilho pode ser um estresse, um vírus, qualquer coisa que estimula esses genes, e daí isso desenvolve a doença autoimune”, indica a presidente da SBEM.

Quando diagnosticada antes da gestação, é indicado, inclusive, que a mãe espere estar estabilizada para iniciar as tentativas. “Não indicamos engravidar, porque vai ser aquela gestação que a gente sabe que vai ser complicada, vai precisar usar medicação e que pode dar hipertiroidismo para o bebê”, diz a médica.

Por isso, essa avaliação pré-concepção é também essencial para definir qual será o tratamento. “O objetivo é negativar esse TRAb e se fizer o tratamento direito, pode curar. TRAb baixo dá pra gente seguir com medicação, já um TRAb super alto, um hipertireoidismo de difícil controle, aí a gente manda pra cirurgia antes para já prepará-la para a gestação. Aí não tem chance de estimular a tireoide do bebê”, indica a médica.

Como o hipertireoidismo pode afetar o bebê?

A médica pontua que a tireoide do bebê começa a ser formada a partir do segundo trimestre, por isso, está suscetível a ser influenciada pela doença da mãe. Da mesma forma que o descontrole hormonal pode deixar a gestante acelerada, ele também faz o mesmo com o feto e isso é muito perigoso.

“O bebê pode ter um retardo de crescimento intrauterino, pode nascer pequenininho, com taquicardia… A placenta tem um mecanismo de proteção a esse excesso de hormônio tireoidiano, mas dependendo da quantidade, pode passar para o bebê e aí ele também pode já nascer com esse hipertireoidismo”, indica Carolina.

Além disso, há o risco de abortamento, anomalias congênitas, atrasos no desenvolvimento, sofrimento fetal, além de parto prematuro. “É bem importante e bem grave. A mãe com hipertireoidismo precisa de acompanhamento e geralmente é considerada uma gestação de alto risco”, pontua a médica.

Como é o tratamento durante a gestação?

O hipertireoidismo, quando causado pela Doença de Graves, possui três opções de tratamento: a medicação, a cirurgia e o tratamento com radioiodoterapia. No entanto, durante a gestação, há contraindicações para os dois últimos. Vamos explicar.

Na gestação, o mais comum é tratar com medicamentos antitireoidianos, como o propiltiouracil, no primeiro trimestre, e o metimazol (tapazol) no segundo e terceiro trimestres, utilizados para controlar a produção excessiva de hormônios pela tireoide. Lembrando que os médicos precisarão ajustar a dose de acordo com o trimestre para evitar efeitos colaterais.

Já a cirurgia geralmente é indicada quando se tem um nódulo na tireoide muito grande ou muito descompensado, que não é possível tratar com medicação. Na gestação, no entanto, não costuma ser a saída. Apenas em casos realmente extremos, quando existe sofrimento fetal ou algum fator complicador muito sério - e somente no segundo semestre da gestação.

E aí chegamos num ponto muito importante: de acordo com o posicionamento da Febrasgo e SBEM, é totalmente contraindicado o uso do iodo radioativo durante a gravidez. Inclusive, é um padrão que se aplica a todas as pacientes mulheres sempre que se cogita a radioiodoterapia: antes de iniciar, é pedido um exame de sangue para checar o Beta HCG. Se der positivo, não é indicado continuar com esse tratamento. “Ele é teratogênico (que têm o potencial de causar malformações congênitas ou defeitos de nascimento) e realmente afeta a formação do bebê, então não indicamos de jeito nenhum”, salienta a endocrinologista.

É, portanto, essencial que as gestantes com hipertireoidismo tenham acompanhamento individualizado e consultas pré-natais quinzenais até a 28ª semana e semanais a partir de então até o parto.

Pode influenciar no parto?

Sim, mas apenas se a doença não foi tratada corretamente durante a gestação ou antes dela. Por ser uma gravidez de risco, é preciso monitorar a frequência cardíaca da mãe para evitar complicações, como taquicardia, hipertensão arterial e hemorragia pós-parto. Além disso, há um risco aumentado de parto prematuro e é fundamental um olhar ainda mais atento para evitar sofrimento fetal, já que o bebê também pode ter aumento do ritmo cardíaco.

O hipertireoidismo pode aparecer no pós-parto?

Durante a gestação é mais raro abrir um quadro de doença autoimune. No entanto, depois que o bebê nasce, aí sim, pode dar uma bagunçada. “Mulheres que não tiveram nada, depois do parto começam com um sintoma, com taquicardia, agitação, e pode ser essa tireoidite pós-parto. Mas é autolimitada, geralmente é no primeiro ano. O bebê faz aniversário e normaliza tudo de novo”, diz a médica. Nesses casos, o tratamento também é com medicação, mas com grande atenção ao tipo e dosagem por conta da amamentação.

E para quem já tinha a doença antes ou durante a gestação, o monitoramento continua com exames periódicos para que o endocrinologista possa ir ajustando a dose da medicação. E aqui vale lembrar que um quadro alterado pode influenciar no puerpério e na amamentação, com menos produção de leite, sabia? Por isso, atenção aos sinais, mamãe!

Fontes: Carolina Ferraz, endocrinologista e diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM); Posicionamento “Rastreio, diagnóstico e manejo do hipertireoidismo na gestação” da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)

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