Por Thais Vilarinho

Thaís Vilarinho é fonoaudióloga e escritora, mãe do Matheus,... ver mais

Como trabalhar a autoestima e autoconfiança do seu filho?

"Às vezes, o mundo está correndo em volta da gente, acabamos correndo para não sermos atropelados, e deixamos de perceber nossas crianças. Deixamos que elas sejam atropeladas por nós", diz Thaís Vilarinho


Lembro que, quando eu era menina e passava as férias na casa da minha avó, a minha brincadeira preferida, depois de rir, ir à praia e jogar jogos de tabuleiro com a minha avó, era “escrever livros”. Eu grampeava folhas de sulfite com histórias e esperava ansiosamente para entregar, adivinha para quem ler? Minha mãe.

Como trabalhar a autoestima do seu filho — Foto: Foto: Getty Images

Lembro do coração acelerar quando ouvia o som dos seus passos subindo as escadas do prédio da casa da minha avó. Depois dos abraços e beijos cheios de saudade, eu corria para pegar o “meu livro” e me dirigia a ela para colocá-lo em suas mãos.

Eu fixava meus olhos de menina nos dela, e sentia borboletas no estômago em um looping de admiração, ternura e ansiedade para saber o que ela tinha achado da minha história. Minha memória imprimiu com força, dentro de mim, toda a atenção que minha mãe colocava naquele emaranhado de folhas de sulfite, cheio de orelhas e grampeadas sem tanto capricho ou simetria.

Depois da leitura, me olhava nos olhos com alegria e me chamava para um abraço caloroso. Falava sobre o seu orgulho, me fazia perguntas, queria saber como tinha criado os personagens. Lembrava das outras histórias que eu tinha escrito, e dizia que eu sempre me superava. Chego a me arrepiar com a lembrança tão clara e transparente que se mistura não só com os meus pensamentos, mas com a minha carne, com a minha alma!

“Acho que não temos noção da potência que temos nas mãos”
— Thais Vilarinho

Anos e anos depois comecei a escrever sobre maternidade. No início, escutei frases como: “O que é isso que você faz na internet?”, “Isso não vai dar certo?” e “Sua escrita é pequena!”.

Posso garantir que grande parte da força e resiliência de seguir em frente, de não ter desistido, vem do encorajamento que a minha mãe sempre depositou em mim. Do cuidado, da confiança, do entusiasmo e da seriedade que ela demonstrava toda vez que eu lhe apresentava um “novo livro”.

As habilidades da sua criança estão por aí, no que ela tem prazer em fazer. No que ela te apresenta durante as brincadeiras mais inocentes e inesperadas. Acho que não temos noção da potência que temos nas mãos, subestimamos o valor e a importância que os filhos depositam em nós. Às vezes, o mundo está correndo em volta da gente, acabamos correndo para não sermos atropelados, e deixamos de perceber nossas crianças. Deixamos que elas sejam atropeladas por nós. Às vezes, não damos a atenção necessária para aqueles olhinhos esperando nosso elogio, nossa validação. Às vezes, no automático, não percebemos os detalhes. E pode até soar cruel dizer isso, mas é a pura verdade: quem perde, e de uma forma que eu tenho dificuldade de explicar, são eles, os nossos filhos.

Olhando do alto dos meus 43 anos, chego a me arrepiar com a lembrança da menina saltitante, cheia de alegria e confiança, após esses momentos com a minha mãe. Uma lembrança que me atravessa até hoje, me move e tem o poder de moldar. Lembranças que, passe o tempo que for, permanecem e se tornam pedaços robustos, quase que palpáveis, da nossa autoestima.

Thaís Vilarinho é fonoaudióloga e escritora. É mãe do Matheus, 13, e do Thomás, 10. Autora dos livros Mãe Fora da Caixa, Mãe recém-nascida e do infantil Deixa eu te contar... (Foto: Arquivo pessoal) — Foto: Crescer

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