• Mônica Pessanha
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Avô e neta (Foto: Getty Images)

Avô e neta (Foto: Getty Images)

Ainda hoje me lembro das visitas que fazia à casa da minha . De todas as lembranças que guardo em relação a elas, nenhum se iguala a do ovo frito que minha vó fazia. Até hoje não encontrei ninguém que fizesse um igual. Minha vó tinha o toque especial: ela fazia o ovo com manteiga. Ela sabia que a gente amava, mas como meu avô era, digamos controlado com finanças, minha vó tinha que despistá-lo para usar a manteiga, eram tempos difíceis. Contando essa lembrança para vocês sinto o cheiro dessa iguaria, pelo menos para mim, invadiu meu olfato. No entanto, mais importante do que satisfazer o gosto gastronômica de sua neta, minha vó me ensinou, por meio do seu gesto simbólico a importância do carinho, respeito e empatia pelo outro.

Não sei se vocês já pararam para pensar sobre a importância e o papel que os avôs têm na vida dos netos. Vou começar dizendo que ao contrário do papel dos pais, o dos avós não é exercer autoridade, mas amar pela segunda vez sem culpas e julgamentos. Não se trata de ter uma responsabilidade educacional nos ombros, mas de uma presença educacional e emocional. E isso muda tudo!

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Longe vão os dias em que filhos, pais e avós viviam sob o mesmo teto e compartilhavam a mesma vida cotidiana. É essencial fazer de tudo para preservar esse elo, promovê-lo o máximo possível, mantê-lo como um presente precioso. A configuração da família mudou, mas os vínculos afetivos não mudam e são independentes da formação de família.

Infelizmente, nem todas as crianças têm a sorte de conhecer seus avós. Eu mesma, só tive o prazer de conhecer meus avós materno. De fato, alguns partem antes mesmo que seus netos forjem uma lembrança deles ou de seus rostos. Enquanto alguns lamentam a falta de proximidade, outros aproveitam ao máximo os avós por vários anos. Eles têm a oportunidade de ser mimados por esta fonte de amor.

Os avós são importantes na vida das crianças, porque eles funcionam como um marco, uma âncora, uma segurança emocional. Eles lhes trazem a sensação de segurança, através de sua experiência e do que eles nos transmitem. De fato, as crianças são tranquilizadas ao notar que existem ao seu redor pessoas benevolentes e confiáveis que as apreciam e cuidam delas, além de seus pais. Assim, a presença dos avós indica aos nossos filhos que eles e seus pais não vieram do nada, mas que há uma sucessão de gerações, uma linhagem. São eles que podem contar a história da família, voltar às origens, testemunhar a existência das gerações anteriores. Isso é tão maravilhoso!!

Meu avô materno era uma um contador de histórias para os netos. Ele era enfermeiro do governador do Rio de Janeiro na década de 60 e nos contava coisas interessantes que não estão nos livros de histórias. E embora eu seja sobrinha-trineta do Nilo Peçanha que foi presidente do Brasil e amo essa parte da minha genealogia paterna, me interessei mais por história e política por conta da experiência vivida com meu avô materno, por ter a presença dele na vida tudo fazia mais sentido!

É, os avós fazem muito bem às crianças! Eles testemunham o passado, mas também permitem que as representações da criança sejam ancoradas no espaço presente: De onde eu venho? Quem sou eu? Marcos essenciais para permitir que as crianças construam uma identidade. Os avós também têm a missão de contar, de responder às perguntas que intrigam tanto a cabeça dos pequenos. "Havia carros quando você era jovem?" Você foi à guerra? E dinossauros, eles já existiam nos seus dias? "


Os avós transmitem história da família, tradições, hábitos e costumes, rituais, especialidades regionais que vão sendo aprendidas de geração em geração. Tudo isso carrega o sabor das raízes e a origem da família. Em parte, são os avós que ajudam nessa transmissão.

Sua disponibilidade é um grande trunfo! Eles também têm a vantagem de viver em outra época, de se libertar do estresse que os pais sofrem diariamente. Não tendo seus netos todos os dias e não tendo pressa, eles estão mais disponíveis, mais pacientes para ensinar gestos do dia a dia, como fazer cadarços ou abotoar um casaco.

Com menos desempenho, menos exigentes, mais descontraídos, muitos avós podem aproveitar o tempo para brincar, diferentemente dos pais com excesso de reservas, e se encarregam de áreas nas quais os pais não têm tempo para brincar.

Outra característica apreciável dos avós é sua capacidade de dialogar, despertar confidências e arredondar ângulos. As crianças podem contar sobre pequenas tensões em casa, conflitos com a mãe e o pai. Os avós são então vistos como confidentes, conselheiros e, às vezes, mediadores. Mesmo que nem sempre seja fácil permanecer no lugar, mesmo que não se concorde com os princípios educacionais aplicados dos pais. Eles são a ponte entre o encontre de três gerações. Isso é muito bonito de viver no processo de educar. E se juntos, unidos pelo melhor eles podem ceder, se adequarem e conviver bem com a educação dos pais.

Já pensou como está sendo difícil esse tempo de COVID-19 tanto para os avós quanto para os netos que partilham desse elo que descrevi nas linhas acima? É um vínculo que não podemos perder! A presença física pode ser limitada, afinal, os avós fazem parte do grupo de risco para o coronavírus e devemos protegê-los, mas como sempre digo, estar presente é diferente de ser presente e, com certeza, a tecnologia pode entrar nesse contexto a nosso favor. Assim, os netos podem ligar, fazer videochamadas, mandar mensagens por whatsapp. E que tal aquele almoço de domingo juntos em videoconferência.

É claro que os avós de hoje são mais jovens, mais ativos, têm suas próprias ocupações e atividades, mas seu lugar e papel na constelação familiar continuam sendo fundamentais. Se ser pai ou mãe é um trabalho real, mas ser avô ou avó é uma grande paixão. Existe um lugar de muito merecimento na vida dos netos. E quem sabe daqui alguns anos, quando for a sua vez de ser avô ou avó, você também poderá dizer com um sorriso: " Maravilha, eles estão chegando!!”, mas com alívio afirmar depois de um fim de semana juntos num misto de alegria e tristeza: “ Ufa, eles foram embora! "

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida". É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)

Mônica Pessanha é psicanalista de crianças, adolescentes e mães. É co-autora do livro "Criando filhos para a vida";. É mãe de mãe de dois, um que virou “estrelinha” e da Melissa, 13 anos. (Foto: Arquivo pessoal)



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