Por Elisama Santos

Aurora da coluna "Entre laços"

"É importante deixar os filhos vivenciarem suas próprias experiências"

A psicanalista Elisama Santos explica por que devemos encorajar nossos filhos a saírem e descobrirem, todos os dias, que o mundo é maior do que nossos braços


Helena viajou com a escola pela primeira vez. Nesse instante em que escrevo, a minha caçulinha está há quase quatro dias fora de casa... Tenho informações dela por meio das fotos que a escola envia para os pais. Quase quatro dias sem ouvir o “mamãe” doce e gentil dela, sem saber se está dormindo bem, se foi respeitada nos seus necessários momentos de introspecção, se foi consolada com gentileza quando precisou (será que caiu, se cortou, se machucou?).

Abraço entre mãe e filha; amor de mãe; maternidade — Foto: Freepik

O crescimento dos filhos é uma experiência única, rica e altamente ambivalente. Quando a escola anunciou a viagem, eu surtei de felicidade. Quase uma semana num lugar lindo, paradisíaco, com experiências ricas que eu jamais poderia proporcionar a ela de outra maneira: pesquisa da vida marinha, oficina de pesca, mergulho. Tudo isso regado à incomparável companhia dos amigos. A menina que fui, crescida na igreja e que nunca viajou sem os pais, pulou de alegria.

A minha pequena ficou reticente. Não sabia se iria, teve as suas inseguranças, assumiu o misto de emoções que a situação trouxe. “Mãe, tô animada e com medo. Não sei se me sinto segura”, confessou.

Passamos os dias seguintes construindo essa segurança. Enquanto parte dela poderia ser resolvida com apoio, o restante só se dissolveria na experiência. O grande dia chegou. Ela me abraçou e disse: “Mãe, obrigada por me dar coragem”. Entrou no ônibus. Foi. Agora corta para a mãe que vos escreve. Helena não sabe, mas a construção de coragem foi mútua.

É preciso coragem para incentivar que os filhos saiam e descubram, todos os dias, que o mundo é maior do que os nossos braços.
— Elisama Santos

Nesta semana repeti para mim mesma, algumas vezes, que é importante que ela seja consolada por outros colos, que se alegre com outros sorrisos, que saboreie outros gostos e que perceba que a vida vale a pena de muitas formas. Estarei sempre aqui, e é essa segurança que faz as partidas mais leves e os retornos mais interessantes.

Das maiores delícias – e dificuldades – de ter um filho adolescente e uma filha quase é perceber como são únicos e diferentes de mim. É escutar sua visão de mundo, é poder sentar ao lado e ouvir histórias que são deles, só deles.

A minha agenda é aberta para quatro pessoas diferentes. Compromissos surgem nela sem que eu seja, necessariamente, informada. Mas anotei a chegada de Helena como uma data indisponível para o que quer que fosse: palestras, eventos, gravações. Preciso estar em casa, porque ela chegará cheia de histórias – e escutar as fofocas quentinhas de filho é algo único.

Sim, o coração está apertado de tê-la longe. E também está alegre e ansioso para ouvir um entusiasmado: “Mãe, preciso te contar!”. Que experiência desafiadoramente deliciosa.

Crescemos, nós duas.

Elisama Santos é psicanalista, educadora parental, escritora, palestrante, mãe de Miguel, 8 anos, e Helena, 6 (Foto: Divulgação) — Foto: Crescer

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