Há mais de meio século, o psiquiatra britânico John Bowlby propôs a teoria do apego.
- "Geralmente tecemos nossas vidas em torno de nossos pais. Às vezes a favor, às vezes contra – nunca indiferentes"
- "Não devemos fazer tudo o que é possível, apenas tudo o que é razoável", diz Carlos González
O apego é uma relação afetiva intensa, persistente e significativa – nem todos os amigos são figuras de apego... e nem todos que nos dão “likes” na internet são amigos.
Todos os bebês estabelecem uma primeira relação de apego, geralmente com a mãe, e a partir daí estabelecem relações de apego com outras pessoas ao longo da vida: com o pai e os irmãos, com alguns avós e familiares, com um amigo da alma, com o namorado ou a namorada, o marido ou a esposa, com os próprios filhos quando os tiver...
A qualidade da primeira relação com a mãe serve de modelo para as demais relações ao longo da vida. Ou seja, quem tem um apego sólido e seguro com a mãe não cresce mimado e isolado, pelo contrário, tem mais facilidade para ter uma boa relação com o pai, o parceiro, os filhos...
A criança que tem um apego seguro à mãe – ou seja, sabe que sempre pode voltar para ela e encontrar um sorriso de encorajamento, um conforto para o choro e uma mão para segurar na hora de superar as maiores dificuldades – ousa separar-se e explorar o mundo. Já quem tem um relacionamento inseguro, que sabe que muitas vezes é ignorado ou rejeitado, fica apegado à mãe, não se atreve a explorar.
Pois bem, quase sete séculos antes, Dante havia descrito esta relação de apego na Divina Comédia. O poeta encontra, diante das portas do inferno, o espírito de seu querido Virgílio, o grande poeta romano, e se esforça para deixar claro que a relação entre eles é como a de um pai com um filho:
“És meu professor, és meu autor / és tu unicamente de quem tirei / o belo estilo que me honra”.
Dizer “autor favorito” teria sido quase banal; mas “meu autor” é uma forma de se referir ao pai. Ao longo do poema, Dante chamará repetidamente Virgílio de “pai”, e Virgílio, por sua vez, o chamará de “filho” ou “filhinho”. E assim, de mãos dadas com o pai e com o seu sorriso encorajador, Dante ousa atravessar as portas do inferno, como uma criança no primeiro dia de aula:
“Depois que ele colocou a mão na minha / com uma expressão feliz, na qual encontrei conforto / me guiou para os mistérios”.
E ainda tem gente que recomenda deixar nossos filhos chorarem, deixá-los sozinhos, longe de nós! Às vezes, os poetas mostram que conhecem a alma humana melhor do que muitos psicólogos.