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Por Crescer online


Há quatro anos, Tracey Britten, aos 50, entrou no livro dos recordes ao tornar-se a mulher mais velha a dar à luz quadrigêmeos na Grã-Bretanha. Embora ela não soubesse de metade das dificuldades que enfrentaria dali a poucos anos, é contundente em dizer que não faria nada diferente e não se arrepende de jeito nenhum de ter feito a fertilização in-vitro, em uma clínica no Chipre, que resultou no nascimento de Grace, Frederica, Francesca e George, hoje, com 4 anos, que foi diagnosticado com autismo.

Tracey, 55, vive com os quatro filhos em um quarto de hotel, em Londres — Foto: Reprodução/ Daily Mail
Tracey, 55, vive com os quatro filhos em um quarto de hotel, em Londres — Foto: Reprodução/ Daily Mail

Tracey e seu marido, Stephen, que é 12 anos mais novo que ela, esperavam ter um bebê, mas todos os três embriões implantados prosperaram e um se dividiu em gêmeos idênticos. Quando o ultrassonografista que realizou o primeiro exame disse que ela estava esperando quadrigêmeos, a mãe começou a chorar e perguntou: “Como vou lidar com isso?”.

Os médicos aconselharam a "reduzir" a gravidez, alertando que a chance de todos os bebês sobreviverem era de um em um milhão. Ela não quis fazer isso e todos os bebês sobreviveram, apesar de terem nascido nove semanas prematuros e passando os primeiros meses na UTI Neonatal.

Quando eles eram bebês, Tracey e Stephen preparavam até 28 mamadeiras de fórmula por madrugada. O banho, as mamadas e as sonecas eram programados com precisão militar para que tudo funcionasse bem. Stephen trabalhava como carpinteiro e Tracey, que era esteticista, planejava alugar uma sala em uma clínica para atender clientes, quando as crianças pudessem ir para a escola.

“Tudo estava se encaixando”, disse a mãe, em entrevista ao Daily Mail. "Então, o proprietário da casa de quatro quartos que alugávamos em Enfield decidiu vendê-la, e não conseguimos encontrar outro lugar que pudéssemos pagar”, relata.

Então, começou o martírio.

A família recebeu o aviso de despejo e foi obrigada a deixar a casa no dia 26 de fevereiro, de acordo com a mãe. Isso se tornou uma situação comum para inquilinos, já que muitos proprietários de imóveis decidiram vendê-los, porque, devido a mudanças na legislação, aumento de taxas e juros, não valia mais a pena mantê-los. O aluguel da casa era de 2.100 libras por mês. Deste valor, 1.800 era coberto pelo pagamento de benefícios habitacionais. No entanto, depois disso, a família não conseguiu encontrar nenhuma casa para alugar com três quartos cobrando menos de 3 mil libras por mês, o que tornaria o pagamento inviável, na situação deles.

“O departamento de habitação disse que ficaríamos sem teto. Precisamos enfrentar o despejo, antes que eles pudessem nos adicionar à lista de espera da casa do conselho e, mesmo assim, poderia levar dez anos até que algo adequado estivesse disponível”, diz Tracey. “Como podemos esperar tanto tempo? Estarei com 65 anos e as crianças serão adolescentes”, acrescenta.

Então, como uma situação provisória, eles foram enviados para um quarto de hotel barato. Bem, na verdade, podem usar dois - que não têm comunicação entre si. Dizendo a si mesma que era apenas temporário e que ninguém poderia razoavelmente esperar que ela morasse em um quarto de hotel com quatro filhos, Tracey empacotou seus móveis, utensílios domésticos, equipamentos de cozinha e a maioria de suas roupas e brinquedos, organizou uma van e colocou tudo em um galpão de armazenamento, a um custo de 200 libras por semana.

Apesar de ligar e enviar e-mails, Tracey diz que não teve resposta do departamento de habitação do conselho regional, em Londres. Já se passaram sete semanas. E a rotina não é nada fácil.

"Sou grata por ter um teto sobre nossas cabeças, é claro, mas estamos presos em um quarto de hotel 24 horas por dia", diz Tracey sobre a acomodação de emergência em um hotel. ”Eu disse que poderíamos alugar uma casa de dois quartos, pelo menos teríamos uma cozinha, mas o departamento de habitação me disse que eles não têm permissão legal para nos abrigar em qualquer lugar com menos de três quartos [por conta do número de pessoas na família]. Ainda assim eles podem nos manter aqui”, ressalta.

A rotina é puxada. Tracey prepara a comida em uma panela elétrica acomodada em cima de uma bancada. Eles usam a louça que lavam na pia do banheiro. A viagem de ida e volta para levar as crianças na escola leva uma hora e meia. Não há geladeira e o leite é amornado em banho-maria, com água do chuveiro. Tudo o que a família tem são apenas dois quartos (um para dormir; o outro para todo o resto) para eles e a maioria de seus bens. Sem uma máquina de lavar, Tracey gasta 40 libras toda vez que usa a lavanderia.

“Quem poderia prever que nossas vidas seriam assim?”, pergunta-se a mãe. “O pior é ter que fazer tudo em um quarto”, diz ela. 'Em uma casa, você tem cozinha, banheiro, sala, quartos, mas isso é tudo que temos. Me sinto desarrumada, suja, e há dias em que não quero sair da cama, mas tenho de me manter forte, de seguir em frente”, relata.

“Eu me sinto péssima por eles terem que viver assim, embora nada disso seja culpa das crianças, e farei o que puder para encontrar outra casa estável para nós”, promete a si mesma.

George, que foi diagnosticado com autismo, só se contenta em assistir e ouvir cantigas de roda, cantadas com sotaque americano agudo. Sem acesso à área externa, as crianças têm muita energia para queimar.

Embora os nervos da mãe estejam em uma situação lastimável, ela é muito paciente e só levanta a voz poucas vezes, para separar brigas entre os quadrigêmeos.

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Embora ela e Stephen ainda estejam juntos e ele passe um tempo lá todos os dias, depois do trabalho e por mais tempo nos fins de semana, ele não suporta ficar enfiado no hotel, então, passa as noites na casa de sua mãe - que não é grande o suficiente para comportar a família toda - em outra parte do norte de Londres. Perguntada se fica com raiva por ficar sozinha com as quatro crianças no hotel enquanto o marido foge para a casa da mãe, Tracey jura que não. “Ele não aguentava ficar aqui o tempo todo. Ele não gosta de espaços fechados e o ar-condicionado poderia desencadear sua asma. Um de nós tem que estar aqui com as crianças e manter as coisas o mais estável possível para elas. É melhor que seja eu — sou mais forte”, contenta-se.

Desde que se mudou para o hotel, ela recebe ligações quase diárias da creche para dizer que uma das crianças não está bem. “Não sei se é o calor desses quartos à noite, quando é muito arriscado abrir as janelas porque estamos no quarto andar, ou o ar condicionado, mas todas essas doenças só começaram quando nos mudamos para cá”, ela diz. “Estou sempre administrando analgésicos e antitérmicos”, afirma.

No momento, ela está conseguindo sobreviver com cerca de três horas de sono. “George geralmente acorda e quer brincar com os blocos de montar. Se eu não deixo, ele chora e acorda os outros”, relata. Ela não se atreve a voltar a dormir porque, em duas ocasiões diferentes durante o dia, George saiu do quarto do hotel - que, é claro, não fecha como uma porta de casa - desceu as escadas no elevador e pisou saiu para a rua, antes de, felizmente, ser parado por um transeunte. “Foi horrível, aterrorizante”, diz Tracey. “Eu estava histérica, pensando que alguém o havia levado ou que ele havia corrido para a estrada movimentada. Temos dois quartos, mas eles não são interligados, então é impossível estar em um, dobrando roupa ou fazendo qualquer outra coisa, enquanto eles estão no outro, brincando, e ficar de olho neles”, conta.

“Se eu não tivesse quatro filhos, não estaria nesta situação, mas nunca coloquei em dúvida”, diz ela sem hesitar. “Nenhum de nós sabia que quatro embriões iriam crescer e, se eu tivesse ouvido os médicos e reduzido a dois, poderia ter perdido os quatro”, acrescenta.

Agora, Tracey continua na batalha, enquanto cobra as autoridades por uma ajuda que parece não vir nunca.

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