Comportamento
 

Por Crescer


Não dá para negar que colocar um desenho animado ou oferecer um joguinho virtual é uma das formas mais rápidas de acalmar uma criança que está irritada. No entanto, usar essa estratégia com frequência pode ser um tiro no pé. É o que mostra um estudo publicado no periódico científico JAMA Pediatrics.

Você usa telas com frequência para acalmar seu filho? — Foto: Pexels/ Phil Nguyen
Você usa telas com frequência para acalmar seu filho? — Foto: Pexels/ Phil Nguyen

Pesquisadores da Michigan Medicine, nos Estados Unidos, mostraram que o uso recorrente de dispositivos como smartphones e tablets para acalmar crianças de 3 a 5 anos, quando elas estão chateadas ou em crise de birra, está associado ao aumento da desregulação emocional - e o efeito é ainda mais intenso em meninos.

“Usar dispositivos móveis para acalmar uma criança pequena pode parecer uma ferramenta inofensiva e temporária para aliviar o estresse em casa, mas pode haver consequências de longo prazo, caso seja uma estratégia calmante utilizada com regularidade”, disse a pediatra Jenny Radesky, que é especialista em desenvolvimento comportamental do Hospital Infantil C.S. Mott da Universidade de Saúde de Michigan e principal autora do estudo. “Particularmente na primeira infância, os dispositivos podem deslocar as oportunidades de desenvolvimento de métodos independentes e alternativos de autorregulação”, explicou.

Para chegar a esta conclusão, os cientistas analisaram 422 pares de pais e crianças de 3 a 5 anos, entre agosto de 2018 e janeiro de 2020, antes do início da pandemia de covid-19. Os pesquisadores analisaram as respostas dos pais e cuidadores sobre a frequência com que usavam dispositivos como uma ferramenta calmante e associações a sintomas de reatividade emocional ou desregulação durante um período de seis meses.

É possível perceber que uma criança sofre com a desregulação das emoções quando ela demonstra sinais como oscilações rápidas entre tristeza e excitação, mudança repentina de humor ou sentimentos e impulsividade aumentada.

Os resultados sugerem que a associação entre dispositivos calmantes e consequências emocionais foi particularmente alta entre meninos e crianças que já sofrem com hiperatividade, impulsividade e temperamento forte. Estas condições os torna mais propensos a reagir intensamente a sentimentos como raiva, frustração e tristeza.

“O uso de dispositivos como forma de apaziguar crianças agitadas pode ser especialmente problemático para aquelas que já lutam com habilidades de enfrentamento emocional”, reforçou a pediatra. Segundo ela, o período pré-escolar é crítico, porque as crianças são mais propensas a ter comportamentos difíceis, crises de birra e emoções intensas. Tudo isso torna ainda mais tentador usar as telas para amenizar os momentos de tensão.

“Os cuidadores podem sentir alívio imediato quando usam esses dispositivos e veem que eles reduzem de forma rápida e eficaz os comportamentos negativos e desafiadores das crianças”, pontua a autora do estudo. “Isso é gratificante para pais e filhos e pode motivá-los a manter esse ciclo. O hábito de usar dispositivos para gerenciar comportamentos difíceis se fortalece com o tempo, à medida que as demandas das crianças, que também vão pedir mais telas, se fortalecem. Quanto mais os dispositivos são usados, menos prática as crianças - e seus pais - têm para tentar usar outras estratégias de enfrentamento”, acrescenta.

Métodos alternativos para acalmar os pequenos podem ajudar a desenvolver habilidades de regulação emocional. Jenny Radesky sabe disso porque, além de pediatra e pesquisadora, também é mãe de dois filhos. Portanto, reconhece que há momentos em que os pais podem usar dispositivos estrategicamente para distrair as crianças, como durante viagens ou quando estão muito enrolados no trabalho. O uso ocasional de mídia para ocupar as crianças é esperado e realista, admite a especialista, mas é importante que não se torne uma ferramenta calmante primária ou regular.

Os profissionais de saúde pediátrica também devem puxar conversas com pais e cuidadores sobre o uso de dispositivos com crianças pequenas e incentivar métodos alternativos de regulação emocional, segundo a autora do estudo.

A pediatra sugere ainda três soluções que podem funcionar como alternativas às telas, em momentos em que as crianças estão irritadas, tristes ou enfrentando uma explosão:

  1. Técnicas sensoriais: as crianças pequenas têm perfis únicos e cada uma se acalma com certos tipos de informações sensoriais. Pode ser balançar, abraçar ou pressionar, pular em um trampolim, apertar uma massinha com as mãos, ouvir música ou olhar para um livro ou frasco com brilho. Se você perceber que seu filho está ficando impaciente, canalize essa energia em movimentos corporais ou abordagens sensoriais.
  2. Nomeie as emoções e o que fazer a respeito delas: quando os pais rotulam o que acham que seu filho está sentindo, eles ajudam a criança a conectar a linguagem aos estados de sentimento e ainda mostram à criança que ela é compreendida. Quanto mais os pais ficarem calmos, mais facilidade terão para mostrar que as emoções são “mencionáveis e gerenciáveis”.
  3. Zonas coloridas: crianças pequenas têm dificuldade de pensar em conceitos abstratos e complicados, como as emoções. As zonas de cores (azul para entediado, verde para calmo, amarelo para ansioso/agitado, vermelho para explosivo) são mais fáceis de entender e podem ser transformadas em um guia visual, fixado na geladeira. Então, você pode orientar seu filho a pintar uma imagem mental de como seu cérebro e corpo estão sentindo. Os pais podem usar essas zonas coloridas em momentos desafiadores (“você está ficando na zona amarela – o que você pode fazer para voltar ao verde?”)
  4. Tire o foco: as crianças podem ter comportamentos bastante negativos quando estão chateadas - e é um instinto normal querer interromper isso. Mas esses comportamentos estão comunicando emoções - portanto, o que elas precisam é aprender um comportamento substituto mais seguro. Isso pode incluir ensinar uma estratégia sensorial (“bater machuca as pessoas; você pode bater neste travesseiro”) ou uma comunicação mais clara (“se você quer minha atenção, apenas bata no meu braço e diga 'com licença, mãe.'”)

Os pais também podem evitar acessos de raiva relacionados à tecnologia definindo cronômetros, dando às crianças expectativas claras de quando e onde os dispositivos podem ser usados e usando aplicativos ou streamings que tenham pontos de parada claros e não apenas reproduzam automaticamente ou deixem a criança continuar rolando.

“Todas essas soluções ajudam as crianças a se entenderem melhor e a se sentirem mais competentes para lidar com seus sentimentos”, diz Jenny. “É preciso repetição por parte de um cuidador, que também precisa tentar manter a calma e não reagir exageradamente às emoções da criança, mas ajuda a desenvolver habilidades de regulação emocional que duram a vida toda”, explica.

“Por outro lado, usar as telas não ensina uma habilidade – apenas distrai a criança de como ela está se sentindo. Crianças que não desenvolvem essas habilidades na primeira infância são mais propensas a ter dificuldades quando estressadas na escola ou com colegas à medida que envelhecem”, completa.

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