Quem já não escutou que família e escola precisam ser parceiras? Precisam dar as mãos a favor da criança? Parceria é colo. É empatia. É compreensão de que somos seres com complexidades infinitas, dotados de nossas angústias, inseguranças e incertezas.
Da parte da escola, é preciso acolher esses sentimentos. É preciso saber que o lugar da maternidade e da paternidade é repleto de expectativas, sonhos e medos.
Da parte das famílias, é preciso entender que a escola, grande ou pequena, tradicional ou o que se oponha a isso, é feita por pessoas. Pessoas que sentem, pensam, reagem e sabem que educação nasce dentro e ganha vida fora. Com isso, famílias precisam enxergar essas pessoas que fazem todos os dias a escolha de doar o que têm para as crianças que cuidam.
Eu sou professor há mais de 30 anos. Nasci dentro de uma escola. Entro numa escola e já percebo coisas que não são ditas. E percebo as coisas que são ditas, mas não acontecem. Como educador, isso é bom. Minhas intervenções são mais precisas. Mas, como pai que sou, é ruim... Essa vida dupla me causa um certo incômodo.
Minha família e eu estamos na estrada do mundo há dois anos. Vivemos na Ásia e estamos morando, atualmente, na África. Enrique, meu filho, de 12 anos, frequentou escolas diversas. Mudamo-nos para Moçambique também porque encontramos uma escola diferente, perto de um lago, com espaço aberto, em que as salas são pequenas casas e os estudantes, quase todos locais.
Chegamos no primeiro dia de aula loucos para conversar com a professora e a coordenação. Vejam, a escola é aberta, no meio do mato. Não tínhamos conseguido falar com elas durante o processo de matrícula, pois nunca estavam. Comecei a achar estranho.
Agora já faz um mês e meio que ele está na escola. Eu sou zero preocupação com provas, lições, conteúdos... a não ser que seja em excesso. Descobrimos que a escola é superconteudista, que as crianças passam menos de uma hora por dia ao ar livre, que as lições de casa duram umas três horas, que os locais são expostos à história de países que não lhes dizem nada. E ainda não fomos atendidos pelo pedagógico. Como essa escola quer estabelecer laços de parceria se não pratica a escuta?
A escola que acolhe as famílias, sem juízo de valores ou ressentimento pela falta de concordância, está mais próxima de estabelecer laços duradouros. O silêncio da escola abre um espaço ruidoso na relação, que só desvia a atenção do que realmente importa: crianças e jovens. Escuta-se para costurar a fala ao que a família precisa. A fala, dessa forma, nasce da demanda, da compreensão e, assim, nasce a parceria. Parceria é, portanto, uma mistura de escuta amorosa e fala generosa.
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