Alexandre Coimbra Amaral - A humanidade em nós

Por Alexandre Coimbra Amaral

Autor da coluna A Humanidade em Nós

 


Ontem estava em um espaço público, numa rua da Zona Norte de São Paulo. Uma criança brincava com argila na varandinha da sua casa, com uma folha de jornal protegendo o material das interferências externas àquela pequena obra de arte. Ela estava orgulhosa de seu feito. Estava toda suja. Eu parei por um minuto ali porque achei a cena muito atípica para nossos tempos, e confesso que fui tragado por um certo sinal de nostalgia.

Criança brincando de pintar — Foto: Freepik
Criança brincando de pintar — Foto: Freepik

Pareceu-me uma cena da casa de minha bisavó, no sertão mineiro, ou de meus filhos numa pequena vila em que moramos no sul baiano. Mas era uma cena da capital paulista, o que lhe conferia ainda mais relevância e raridade. Reunia elementos como: arte, ausência de tela, um tanto de natureza, a fruição de um tempo mais sereno e menos acelerado e uma mangueira colocada estrategicamente para limpar tudo no final.

Saí de lá entre o suspiro e o lamento. Um dos sintomas mais carregados de preocupação na forma como estamos criando nossos filhos é a transformação do cuidado em remédio, da ideia de saúde em doença e do diagnóstico como a bússola de que tudo está sendo feito em seu benefício. Aquela criança da varanda com sua argila não era portadora de nenhum diagnóstico que lhe daria uma medicação, um sem-número de terapias ou processos médicos. Ela era apenas, como eu digo, portadora de infância.

Temos nos esquecido do quanto a infância é uma oferta, em si, de atividades e atitudes saudáveis, que nos fazem desenvolver com alegria, inteireza e criatividade. Temos deixado que o discurso medicalizante nos convença de que somos muito mais imperfeitos e mais necessitados de intervenções.

Saúde mental não é sinônimo nem de doença nem de remédio. Precisamos voltar às bússolas com o norte direcionado ao lugar certo: saúde é um processo de vida que se constrói o tempo todo, em comunidade, em comunhão com a natureza, em convivência com a diferença e com a aceitação dos humores naturais da vida (medo, tristeza, culpa, raiva). Tristeza não é depressão, medo não é síndrome do pânico, infância moleca não é TDAH e angústia de existir não é transtorno de ansiedade.

Precisamos de muitos elementos na vida para darmos conta do intenso processo que é fazer escolhas, lidar com nossas limitações, com as frustrações do que não somos e não conseguimos ser. Isso se minimiza com encontro, com produção de sentido para a vida na coletividade, com tempo de silêncio, com delicadeza, com bom sono, com literatura infantil, com passeio no parque, com acompanhar o movimento de uma formiga enquanto ela leva uma folha nas costas.

Trocar isso por um remédio ou por um diagnóstico é uma perda irreparável. Infância é envolvimento com a vida. Voltar a ela, dentro de cada um de nós, é uma forma de convidarmos nossos filhos a um encontro com a argila, com o sorriso das mãos sujas e com a água da mangueira que tudo resolve em poucos segundos.

Alexandre Coimbra Amaral é mestre em Psicologia pela PUC do Chile, palestrante, escritor, terapeuta familiar e de casais. Pai de Luã, 15, Ravi, 13, e Gael, 8. Colunista do Valor Econômico e consultor de saúde mental em escolas e empresas — Foto: Crescer
Alexandre Coimbra Amaral é mestre em Psicologia pela PUC do Chile, palestrante, escritor, terapeuta familiar e de casais. Pai de Luã, 15, Ravi, 13, e Gael, 8. Colunista do Valor Econômico e consultor de saúde mental em escolas e empresas — Foto: Crescer
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